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A Humildade é a morada do Amor
Jerônimo Lauricio - Bacharel em Filosofia.
E-mail: jeronimolauricio@gmail.com
 
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Quem na vida nunca foi submetido a algum tipo de humilhação? Parece provocativa a pergunta, mas é a partir dela que vamos descobrir o véu da humildade. Basta dar alguns passos para encontrar ao longo do caminho o número de pessoas que já passaram por este processo. Neste itinerário encontramos também muita gente que colheu belas rosas no “canteiro da humildade”, gente que cresceu, amadureceu e que começou a enxergar a vida sob a ótica do Amor. Nossa... Quantos santos encontraram na humildade a escada em direção ao Amor.

É interessante como a humildade no horizonte do Cristianismo nos possibilita a ver o mundo diferente. Isso mesmo! A humildade é a dinâmica que nos favorece exercitar o Amor em lugares pouco visitados; é a lente que nos possibilita contemplar o Amor em pessoas pouco acreditadas. Às vezes, gosto de pensar que se o Amor tem morada, o endereço dela certamente é o da humildade. Acho que é por isso que as virtudes do coração de Jesus são por excelência a “mansidão e a humildade” (Mt 11, 29). Diria sem medo que a humildade é uma forma do Amor se revelar. A imagem que nos sugere uma compreensão singular é quando Jesus se inclina humildemente para lavar os pés daqueles a quem tanto ama.

Quem nos acompanha deve perceber que às vezes gostamos de lapidar a pedra bruta das palavras a fim de extrair o que elas têm de melhor. Neste sentido, vale a pena saber por exemplo que a expressão “humildade”, os latinos a chamava de “humilitas”, isto é, o gesto de quem se dirige ao “húmus”, à terra. Fica claro agora a imagem daquele Mestre que se dirige ao húmus presente nos pés dos seus discípulos, a fim de limpá-los do dos falsos amores e fazê-los experimentar o Verdadeiro Amor.

O húmus se revela sempre fértil, e geologicamente é a parte mais fértil da terra. Assim a humildade é para nossa vida uma graça de fertilidade que faz brotar a vida nova em Deus, com Deus e por Deus, tal como foi com aquela mulher apanhada em adultério. Quando os fariseus a leva até Jesus, Ele desmascara o excessivo rigor que os norteia. Em vez de ficar discutindo sobre lei e justiça, Ele se inclina e passa a escrever com o dedo na terra (Jo 8, 2-11). Mexe com o humus, e revela muito provavelmente que o que se apresenta como um território inabitável deve se tornar por meio da humildade a casa do Amor. É o Amor sendo costurado no tecido redentor da Humildade.

Um outro ensinamento rico que temos é quando encontramos Jesus que cura o cego de nascença ao cuspir no “chão” e fazer lodo com a saliva (Jo 9, 6). Nessa história de cura temos o barro da terra. Jesus passa lodo (ou lama como algumas traduções sugerem) nos olhos do cego para dizer-lhe: “Você foi feito do barro. E só aceitando sua condição de fragilidade, sua sujeira interior é que você conseguirá ver.” Jesus nos ensina ali que quem em seu orgulho, se recusa a olhar a própria história, torna-se cego. Só quem tem a coragem de descer à própria condição humana por meio da humildade é que consegue abrir os olhos diante do Amor, enxergar-se como realmente é,  para enfim comunicar-se com Deus. Como diria Padre Pio de Pietrelcina: "Quanto mais deixares te enraizar na santa humildade, mais íntima será tua comunicação com Deus".

Poderíamos explorar muito mais do universo da humildade. Não se pode negar que no cenário do Cristianismo todos os dias temos a rica possibilidade de contemplar novas reflexões que nos ajudam a dar realidade ao sonho de Deus em nossa história. Contudo, tudo é dom de Deus, inclusive tais reflexões. Busquemos, portanto ser humildes tal como os bambus o são. Sua beleza é um espetáculo de humildade, pois quanto mais altos eles são, mais inclinados se revelam.



 
 
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