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Admirar e garimpar as minas do coração humano, eis a nossa Vocação!
Jerônimo Lauricio - Bacharel em Filosofia.
E-mail: jeronimolauricio@gmail.com
 
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Uma das coisas que mais me fascina no Cristianismo é a capacidade admirável de Deus nos amar. De tantas atribuições que caracterizam o Amor, uma me impressiona, que a da admiração. O Amor de Deus nos admira, seu olhar nos acompanha, nos modifica. Quando você admira, você mira, vê além... É isso que Deus em seu amor nos faz. Nos admira porque nos vê além do que somos, do que deixamos de fazer. Muitos amigos já não se entendem, muitos casais e namorados e mesmo muitas famílias já não sabem mais como cultivar o Amor em suas relações, porque esqueceram-se de se admirar e de se olharem. O máximo que olhares abarcam são as aparências, os limites, as dificuldades.

Há uma beleza insondável no oficio do garimpeiro que nos permite entender o motivo da admiração nos emprestar um jeito diferente de Amar. Outro dia em visita a um amigo, ele me dizia que no seio do Cristianismo a nossa vocação por ser fundada no Amor precisa assemelhar-se a do garimpeiro. “Precisamos ser garimpeiros de homens... das minas do coração humano”, dizia ele. Conclui pensando que é realmente isso. Acrescentando-lhe, todavia, que só podemos exercer tamanho oficio quando temos a capacidade de admirar, mirar além...

A admiração é ferramenta indispensável, pois ela empresta ao garimpeiro a coragem e a persistência. Ali no garimpo, ele rasga a dureza do chão em busca da pedra preciosa. Por vezes as mãos se ferem na busca, e a dor só se torna suportável porque há a esperança do encontro. Cada movimento é resultado de sua admiração. Cada gesto se torna admirável por ser fruto de sua habilidosa coragem de ver além das aparências dos cascalhos. Alias, só é admirável porque “COR + AGEM” é aquela força que age e brota do coração - (Cor, cordis = coração. Agem = força, agir).  Ele admira e trabalha a mina à sua frente a partir da ótica do coração. Interessante que singular movimento é o de Deus diante da nossa humanidade.

Para chegar à pedra rara, o garimpeiro terá seus dedos feridos pelas pedras comuns, mesmo que se utilize de outros instrumentos do garimpo. Não obstante, chega um momento em que ele precisa ignorar tais instrumentos e valer tão somente de suas mãos, pois a missão do seu oficio requer cuidados especiais. Assim também é a mão admirável do Amor de Deus que nos acompanha e ensina como garimpar os corações humanos. Ou como dizia o meu amigo, a mina do coração humano. O garimpeiro não se prende ao medo dos ferimentos, mas investe constantemente em movimentos de procura. Mete a unha no chão, peneira os excessos, remexe a lama, até que os seus olhos encontrem o brilho opaco da diferença.

Com a descoberta, o sorriso nasce, restaura e faz esquecer a dor que marcou o tempo da procura. O Amor que admira sobrevive dessas buscas. Nossa missão e vocação também. É bom por os olhos no que esperamos. É bom admirar aos que amamos. É bom também garimpar a mina do coração daqueles que encontramos. Aliás, penso que essa é de fato a nossa vocação. Um sorriso, uma acolhida, um abraço, um perdão, uma palavra de amor, um gesto de amizade, são terrenos fecundos para se cultivar esta vocação. Toda a mina tem pedras preciosas guardadas esperando pelo nosso oficio de garimpeiros. Que o Amor de Deus, portanto, nos ajude admirar e nos ensine a garimpar quantas minas Ele nos permitir encontrar.



 
 
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