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Trezena de São Sebastião
Por: DOM ORANI JOÃO TEMPESTA, O. Cist.
ARCEBISPO METROPOLITANO DE SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO, RJ
 
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Iniciamos segunda-feira, dia 7 de janeiro, a trezena de São Sebastião. O tema que nos acompanha este ano é o do acolhimento: “São Sebastião, irmão na fé, acolhei-o”. A experiência de iniciar o novo ano com a caminhada com o nosso padroeiro pelas ruas e avenidas da cidade, a cada ano nos proporciona oportunidades novas ao ver os desafios de levar a nossa grande cidade a ser um lugar de paz e fraternidade. Vemos sempre belos sinais e exemplos, e pedimos a Deus que sejam multiplicados.

Chamamos de trezena os treze dias de preparações e orações.  Existem outros momentos de trezenas, como também muitas novenas, tríduos e tantas formas de vivermos o tempo de espera. A expectativa da celebração do dia 20 de janeiro na cidade de São Sebastião nos ajuda a ver nossa missão em servi-la, e, com o exemplo do nosso padroeiro, seguir a Cristo dando testemunho de nossa fé cristã.

Os problemas sociais, as visitas aos locais de privação de liberdade, hospitais, entidades culturais e governamentais, órgãos de segurança, capelas, igrejas, paróquias, ruas e praças nos ajudam no nosso compromisso cristão em que a fé está ligada à vida. Ansiamos por tempos melhores e queremos testemunhar com alegria que o seguimento de Jesus Cristo transforma vidas e relacionamentos e nos faz construtores da civilização do amor. Por isso, este tempo é um modo de comemorar e celebrar o grande padroeiro da Arquidiocese com todos os compromissos cristãos decorrentes de nossa fé em Cristo Jesus, de quem São Sebastião é testemunha. Estácio de Sá fundou a Vila de São Sebastião ao erigir uma capela de palha, em honra a esse santo, na Praia Martim Afonso (hoje Praia Vermelha), mais tarde transferida para o Morro de São Januário (depois Morro do Castelo), que, como sabemos, foi destruído numa reforma urbanística em 1921.

No atual momento, com tantas apreensões em relação à violência, à droga, ao esfacelamento das relações familiares e humanas, com grandes desconfianças uns dos outros, uma trezena pode canalizar nossa apreensão de uma forma positiva: confiar as nossas necessidades a Deus através da intercessão de São Sebastião, que nos compromete a ser exemplo de vida cristã, assumindo nossa missão na sociedade.

Abrimos, portanto, o ano novo com a festa do padroeiro dessa cidade maravilhosa que, segundo tradição antiga (batalha das canoas), é o grande defensor da mesma, e que agora intercede por todos nós. Estivemos na baía de Guanabara para rezar pelos falecidos nessa batalha e pedir a Deus que reine em paz em nossas fronteiras e que não necessitemos de batalhas sangrentas para conservar nossa liberdade e dignidade.

O tema deste ano – acolher o exemplo de São Sebastião, nosso irmão na fé –, nos remete à necessidade de acolher os jovens peregrinos neste ano da juventude, mas também estamos acolhendo a solidariedade dos irmãos e irmãs que doam de si e dos seus bens para os desabrigados das enchentes deste ano, através da campanha da Cáritas Arquidiocesana, que acontece concomitantemente com a peregrinação da imagem de São Sebastião pela nossa cidade. Já enviamos grande número de gêneros alimentícios, água, roupa, dinheiro para as regiões necessitadas através das Dioceses respectivas.

Além das Igrejas, Capelas e Paróquias dedicadas ao nosso santo, também percorremos hospitais, casas de saúde, locais de detenção ou privação de liberdade, entidades sociais e culturais, órgãos governamentais do poder executivo ou legislativo, assim como da segurança pública, conventos e casas religiosas, em especial as contemplativas, e tantos outros locais, chamando as pessoas ao encontro com Cristo para que, como São Sebastião, sejam testemunhas fiéis do Evangelho até o fim de suas vidas.

Acolher o exemplo de São Sebastião, vivendo como cristão autêntico, é também saber acolher o outro, ser solidário com o outro e, em especial neste ano da juventude, acolher o jovem peregrino que vem compartilhar sua fé e sua vida cristã conosco. Bem-aventurados somos nós por poder acolher esses belos sinais de esperança em nossa cidade. Que eles nos levem a viver cada vez mais a caridade.

A trezena nos ajuda a renovar nossa confiança em Deus e a nos manter em harmonia com Ele. Oferece-nos um verdadeiro conforto para a mente e para a alma, pois durante esse tempo celebramos juntos a nossa fé, e caminhamos procurando em tudo viver o Mistério da Encarnação, celebrado no tempo de Natal.

A trezena também é um momento oportuno para nos colocar em sintonia com a nossa família espiritual, a Igreja. Com ela nos unimos aos nossos irmãos, aumentando o nosso sentimento de comunidade, de povo de Deus orante. A nossa comunhão com todos os que anseiam por tempos melhores respeitando a liberdade de opção e de pensamento, sem pressões contrárias e confiando no progresso da paz e da fraternidade. A vivência cristã nos leva a construir, com a graça de Deus, um mundo mais justo e humano diante de uma sociedade que perde os valores da própria vida humana.

Com a trezena também nos preparamos mais firmemente para a grande celebração litúrgica da Igreja – a Santa Missa – que é celebrada a cada dia, mas que nos conduz para a grande celebração do Dia do Padroeiro, dia 20 de janeiro. A celebração eucarística em nossa Catedral será precedida pela grande procissão popular que acontece à tarde na cidade do Rio de Janeiro.

A trezena, embora não faça parte da liturgia oficial da Igreja, nos prepara, no entanto, para a liturgia e para a vida de unidade eclesial. Caminhamos juntos na mesma fé, e ao pedirmos a intercessão de São Sebastião devemos querer imitar as virtudes de sua vida no seguimento ao Evangelho de Jesus Cristo. A passagem da peregrinação pelas ruas dessa grande cidade suscita também reações, em geral de piedade, levando pessoas a voltarem a participar de sua comunidade, procurando vivenciar suas tradições católicas.

Preparação é a palavra chave de uma trezena! Preparemos as nossas almas para a exigência da confiança, da humildade e da perseverança, três qualidades importantes na oração cristã. E que a imagem de São Sebastião, peregrinando pela cidade do Rio de Janeiro, seja penhor de graças para todo o nosso amado povo!

 
 
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