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Líbano eterno
Por: DOM ALOÍSIO ROQUE OPPERMANN
SCJ ARCEBISPO DE UBERABA, MG
 
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Desde tempos imemoriais se ouve falar dessa terra ubérrima. Já na Bíblia existem centenas de alusões a seus cedros gigantescos,  à fertilidade de sua faixa marítima, aos seus habitantes. “O justo crescerá como o cedro do Líbano”         (Sl 92, 12).

Mas também é um país sempre disputado, ora na mão dos assírios, ora dos gregos, dos turcos,  dos romanos e dos árabes.  Jamais a paz se tornou permanente em suas fronteiras. Foi sempre um país lindo, com paz ameaçada duradouramente. Até a França, no século XIX, esteve nele, desejando restabelecer o equilíbrio social.

Buscou ser  protetora da paz, implantando costumes europeus e fortalecendo sobremaneira a parte cristã de seus habitantes. Houve repartição do poder entre grupos cristãos, ortodoxos e muçulmanos. Esse equilíbrio social, contudo, foi novamente rompido, com o advento dos xiitas palestinos, interessados em destruir o estado de Israel. Instalaram-se no sul do Líbano, como base para  ataques.

Não quero, de forma alguma, ser insensível a esse povo perseguido, que não tem pátria, os palestinos. O representante da autoridade palestina aqui no Brasil, teve a gentileza de me visitar em Uberaba, e explicar as agruras pelas quais passa esse povo tão sofrido. Mas o Líbano se expôs às mais duras represálias.

Lembro-me que a colônia libanesa de São Paulo, por mais de uma década, durante as assembléias dos Bispos em Itaici, compareceu em alguma missa especial, com suas bandeiras e seus uniformes, buscando apoio político da Igreja Católica. O que poderíamos fazer de prático? 

Seus temores eram mais do que fundados. Eles vislumbravam a destruição do Líbano, e o rompimento da rica tradição desse povo altamente civilizado. Já há mais de 100 anos existe uma “diáspora libanesa” aqui no Brasil. Não há cidade que não tenha a sua colônia, fortemente voltada para o comércio, com bons representantes na vida política do país e até na hierarquia católica. À medida que aumentam as pressões no país de origem, levas e levas se dirigem para a América do Sul, fugindo das perseguições xiitas, e buscando ambientes de paz.

Embora eu respeite profundamente o povo de Israel (e até sinta simpatia), e me encha  de  compaixão pelos palestinos, não consigo concordar com a extinção da vocação libanesa. A continuar como estão os acontecimentos, não iremos longe. O Líbano será habitado por um grupo de muçulmanos, pouco abertos em manter as tradições democráticas e a grande liberdade religiosa dessa nobre nação.



 
 
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