Na luta esfuziante sobre o acordo Brasil x Santa Sé, “revelaram-se os pensamentos de muitos corações” (Lc 2, 35). Muita gente perdeu a tramontana, e começou a expressar idéias mais do que confusas.
O importante era falar alguma coisa contra as pretensões eclesiais. Parecia que estávamos revivendo as idéias dos enciclopedistas, em plena revolução francesa. Os comentários eram acres, não poucas vezes eivados de desprezo pela inteligência dos adversários.
Manejaram, desajeitadamente, o conceito de Estado laico, dando-lhe um significado diferente daquele que lhe sói ser atribuído. Estou a favor de que o Estado seja laico, naquele sentido em que a República não assume nenhuma das religiões, mas protege a todas, e lhes dá status de liberdade. Não assim pensam certos adversários (bem intencionados?). Cooptam a idéia de laicidade, acrescentando-lhe astutamente, a qualidade de ateísmo. O Estado laico é aquele que procura passar a idéia de opção pública pela não-crença, e que não admite presença de religião nenhuma na vida pública, dizem.
Essa atitude, assim descrita, supõe uma verdadeira “missionariedade” estatal. O poder público não poderia admitir nenhum símbolo religioso, mesmo sabendo que a história do povo brasileiro não pode ser entendida sem a religião católica. Não poderia permitir, em definitivo, que os alunos católicos recebessem ensino de sua religião, nem que os de confissão evangélica tivessem qualquer notícia sobre a sua.
A laicidade estatal teria a sua “Bíblia”, (certos livros de corte agnóstico ou francamente anti-teístas). Teria as suas festas (o domingo seria nivelado aos demais dias da semana). Teria também suas “coletas” para sustentar os “missionários”. Teria os seus “santos”, os seus “anjos” e os seus heróis. Mas o mais lamentável seria a profissão de fé no grande deus dessa nova religião. O onipotente, que deveria ser adorado e glorificado pela República, seria o ”eu” de cada pessoa.
Esse seria o novo deus, centro do universo. Com isso a laicidade do Estado seria totalmente cooptada em favor de uma nova religião. Sabemos que isso de o poder público ser laico é bem outra coisa. É um benefício. Mas isso que se propõe está desfocado.
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