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Mais íntimo do que o “eu”
Por: DOM ALOÍSIO ROQUE OPPERMANN
SCJ ARCEBISPO DE UBERABA, MG
 
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O Deus inefável realiza o ser humano. Não realiza da mesma forma  o animal, porque nele nada existe que possa perceber  o transcendental. Eis porque os animais não são religiosos. Até a cabeça deles (voltada para baixo), indica que suas ocupações são terrestres.

Mas o “homo sapiens” percebe o Ser por excelência.  Seu conhecimento é a partir da inteligência. “Aproximai-vos de Deus, e ele se aproximará de vós” (Tg 4,8). 

Sua cabeça é ereta (aberta para as coisas do alto). Nesta situação terrestre, a inteligência é a única forma normal de conhecer o Criador. Mas não é um conhecimento evidente, como percebemos, sem sombra de dúvidas, que o boi anda e a andorinha voa.

Quando nos voltamos a Deus, a par de nossas certezas, sempre sobra alguma coisa mal explicada, alguma dúvida. Caso contrário, acabaria a fé. Em coisas evidentes nós temos certeza absoluta. Não podemos depositar fé.  Só podemos crer, por um ato livre de vontade,  em coisas ou pessoas que não conhecemos pela evidência dos sentidos.

Um prócer da literatura mundial, português, com enorme desdém, exclama que Deus só existe na cabeça das pessoas. Ainda bem que nos sentimos honrados com isso. Pois a nossa fé no Eterno, realmente provém da iluminação da inteligência.

Agora, o ateísmo vem do coração (das paixões, da rebeldia). A descrença não vem de argumentos da inteligência. Os enganadores argumentos contra o Ser Supremo, são uma ginástica posterior à decisão de não querer crer. O reconhecimento do único ser necessário, como todos podem sentir, se enquadra perfeitamente na nossa psicologia.

Ele é o convexo que se encaixa no nosso côncavo. Encontra-se no centro do nosso “eu”. É a resposta para nossos anseios mais profundos. “Por ti, ó Deus, suspira a minha alma” (Sl 42, 1). Mesmo a organização social, para não ser um tortura de erros, deve derivar dos princípios do  autor de nossa natureza. A humanidade tem o direito de elaborar as leis sociais, de organizar a justiça da boa convivência.

Ela tem o dever de descobrir o sentido da nossa existência. Mas seu coração não deve perder por um momento, a sintonia com o Criador, que sabe para que finalidade nos criou. Caso contrário daremos “magni passus, sed extra viam”. Executaremos largos passos, mas fora do caminho (Santo Agostinho).



 
 
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