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Desconversando
Por: DOM ALOÍSIO ROQUE OPPERMANN
SCJ ARCEBISPO DE UBERABA, MG
 
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A tendência humana de adiar assuntos mais complicados, já é bem conhecida. “Deixa pra lá”, dizem os conselheiros populares. “Não esquenta a cuca”, acrescenta outro. “O que não tem solução, resolvido está”, filosofam os portugueses. “Basta a cada  dia  a  própria  dificuldade” (Mt 6,  34).

Olhada assim de relance, essa tendência de contornar problemas faz lógica. Embora a nossa mente tenha bilhões de neurônios, e seja capaz de trilhões de ligações nervosas, a nossa capacidade intelectual tem limites.  Ultrapassadas certas divisórias, o povo diz que a “cuca ferve”.

Mas o que está acontecendo com o Documento de Aparecida já é bem diferente. Chega a ser desídia. Não é uma simples atitude prudencial, mas de desligamento. Já entramos perigosamente na rota do arquivamento. A proposta da V Conferência do CELAM é muito rica. Traz soluções novas.

Exige um empenho de profundidade. Leva à busca de uma nova maneira de viver a santidade. E isso está assustando, especialmente as pessoas mais tranqüilas e já acostumadas a uma certa caminhada. O que está acontecendo é altamente perturbador. Estamos percebendo um processo de congelamento. Sim, o documento de Aparecida está sendo encaminhado ao freezer.

Será que  podemos nos conformar com essa atitude? Na verdade,  foi encontrada uma grande desculpa para não entrar mais no mérito da questão. Tornou-se público que o documento apresentado ao Papa Bento XVI sofreu uns pequenos aperfeiçoamentos plásticos. São réus confessos da cirurgia noturna dois Bispos do Chile e da Argentina.

E esse documento “melhorado” foi o texto aprovado pelo Papa, sem conhecer o detalhe. É claro que ninguém gostou dessa intervenção.  Mas segundo os melhores conhecedores do documento, nada de substancial foi mudado. E é perfeitamente possível trabalhar com os 99,9% sadios do texto.

Mas até agora, todas as reuniões de que ouvi falar, realizadas para trabalhar na concretização dos encaminhamentos, morreram nos protestos. Até agora ninguém estudou nada a fundo. Não estaríamos incidindo no que previu Jesus: “Logo que ouvem a Palavra, vem satanás e tira o que neles foi semeado” (Mc 4, 15) ?



 
 
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