Liturgia Dominical
 
22º Domingo do Tempo Comum - A.
Por: Padre Wagner Augusto Portugal
Vigário judicial da Arquidiocese de Juiz de Fora
e presidente do Tribunal Eclesiástico Interdiocesano
 
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“Tende compaixão de mim, Senhor, clamo por vós o dia inteiro; Senhor, sois bom e clemente, cheio de misericórdia para aqueles que vos invocam”(cf. Sl. 85,3.5).

Refletimos neste domingo o chamado para ser profeta. Nos dias de hoje muitos querem ser profeta. Mas ser profeta não é fácil, e tampouco vivenciar o seguimento do profeta. A primeira leitura tirada do profeta Jeremias(cf. Jr 20,7-9) nos fala da atitude e da caminhada que deve pautar a vida daqueles que são enviados por Deus para alertar ao povo da necessidade de retornar aos caminhos da salvação. A vida do profeta deve ser uma vida de sedução. Na linguagem de hoje, pós-moderna, Jeremias diria que “entrou numa fria”. Jeremias, ao falar da sua vida, diz que desde o início de seu ministério profético tudo foi um tanto “recalcitrante”. Até quis fazer um momento de greve, mas a voz de Deus ecoou mais forte como um fogo abrasador no seu peito, não conseguindo fugir da vontade do Senhor. Aqui reside a novidade da mensagem do profeta. Quando ele tem uma mensagem desagradável e sempre de novo deve incomodar e ferir os ouvidos, Deus não o deixa em paz.

Meus irmãos,

Pedro deu aquele testemunho sobre o Senhorio de Nosso Senhor Jesus Cristo, como o Filho do Deus vivo. Tratava-se de uma visão petrina de um Messias triunfante e dominador e não do Servo Sofredor, do irmão que veio não para ser servido, mas para servir.

Jesus hoje anuncia a paixão, a morte e a ressurreição, fato que os discípulos não imaginavam, pois se Jesus era o Filho de Deus não poderia morrer. Para eles a morte ficava como uma demonstração de que Jesus era igual aos outros profetas.  Só que para os discípulos seria difícil compreender que a Morte violenta estava nos planos de Deus e que a ressurreição ao terceiro dia, inaugurando uma nova era de redenção, só seria aceita depois de contemplada a sua cabal realização.

O Evangelho coloca que o cristão não é melhor do que o Mestre. E ninguém poderá querer ser melhor do que o Mestre sem segui-Lo, sem sofrer como Ele sofreu, porque o discípulo precisa sofrer para purificar-se, tendo em vista que da Cruz de cada dia e do sofrimento da purificação se eleva o crescimento da nossa fé e da nossa ação evangelizadora.

Meus amigos,

Uma das lições do Evangelho de hoje(cf. Mt 16,21-27) é provocadora: Jesus caminha consciente para a morte. Jesus na leitura de Mateus prefigura o teatro da sua condenação: o sinédrio com os seus membros: anciãos, doutores da lei e sumos sacerdotes.

A segunda lição da leitura central de hoje é Jesus chamar a Pedro de Satanás. Aquele que está diante do tribunal acusa, ou seja, o adversário. Em linguagem mais coloquial é aquele que se cruza no nosso caminho, nos causa dificuldade ou nos impede de agir. Satanás é aquele que se opõe aos planos de Deus. É nesse sentido que Jesus chama Pedro de satanás. De qualquer maneira, há semelhança entre Pedro e o tentador no início da vida pública de Jesus. Lá Satanás quis desviá-lo de sua missão e levá-lo para o caminho da vaidade humana. Agora, sem maldade, Pedro, está pensando em dissuadir Jesus de caminhar até Jerusalém, ao encontro da Paixão, Morte e Ressurreição. Por isso, Jesus o repele com a mesma veemência com que repeliu o demônio.

Uma terceira lição que podemos tirar do Evangelho é que podemos ser satanás para nós mesmos. Ao chamar Pedro de “pedra de tropeço” e de “pedra de escândalo” Jesus quer alertar que na caminhada de cristãos, de membros ativos da Igreja fundada sobre a rocha que é Pedro, muitos caminhos obscuros serão colocados na direção dos crentes. Aí nascem as tentações de nos desviar do bem, vários pretextos para nos afastar dos caminhos de Deus e da sua vontade salvadora. O ponto central do Evangelho de hoje é esse: Ser satanás para nós mesmos é ir contra o projeto do Senhor. Seguir a Jesus Cristo é renunciar a tudo e segui-Lo, se preciso for até morrendo no martírio para que esse seguimento se efetive e brilhe a luz admirável da nova vida em Cristo Senhor.

Meus irmãos,

A parte segunda do Evangelho – vv. 24-27 – se dirige aos discípulos de todos os tempos. Não apenas a estrada de Jesus é tortuosa e difícil, mas a todos aqueles e aquelas que querem Segui-Lo e testemunhá-Lo. Crer em Cristo é muito abrangente, significa também sofrer por Ele. Há um sofrimento do qual nenhum discípulo pode escapar e para o qual nenhuma medicina humana serve: a renúncia aos próprios interesses. Toda renúncia tem como conseqüência à dor, mas nem toda renúncia é perda, é ganho.

A primeira tentação que o demônio tentou apresentar a Jesus foi o ter e o poder, o desejo do aplauso, o desejo do poder, sem limites. Esse é o caminho do mundo. O caminho de Deus, entretanto, é outro é o da solidariedade, da partilha, do acolhimento, da renúncia, enfim, da caridade e do AMOR.

Amigos,

Na segunda leitura(cf. Rm 12,1-2) encontramos uma iluminação proveniente do Evangelho de hoje: oferecer-se como hóstia viva a Deus, então, não é desprezar-se, mas o culto razoável, o cultivo coerente e conseqüente da vontade de Deus: sermos plenamente seus, seu povo, seus filhos, seus profetas, não conformando-nos a este mundo, mas procurando conformidade com a vontade de Deus. Uma bela exortação para que seja a nossa meta na semana que se inicia: A palavra do Senhor tornou-se para mim motivo de injúria, porque Jesus foi morto por causa desse sonho! E a quem o quer seguir, ele diz: “renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me!(cf. Mt 16, 24)”.

Enquanto o mundo gira a Cruz permanece de pé!

Com a Cruz permanecendo em pé no mundo queremos rezar por todos os nossos irmãos leigos e leigos que fazem acontecer a Igreja na ponta das redes de comunidade. Entre os leigos e leigos queremos, de maneira especial, agradecer a Deus o trabalho silencioso e persistente de nossos catequistas, que são os principais colaboradores dos párocos, fazendo a presença amorosa de formadores de nossas novas gerações. Que Deus abençoe sempre os que dilatam o Seu Evangelho e que nunca falte a assistência da Trindade Santíssima. Amém!



 
 

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