Liturgia Dominical
 
3º Domingo do Tempo Comum - A
 
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“Cantai ao Senhor um canto novo, cantai ao Senhor, ó terra inteira; esplendor, majestade e beleza brilham no seu templo santo”(cf. Sl 95, 1.6)

Meus queridos amigos,

A novidade do tempo comum é o encantamento da liturgia que nos coloca em contacto com a generosidade do Deus da Vida, a Vida que veio, na palavra de Isaías como “O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz”, (cf. Is 8, 9.a) E esta grande Luz é o Cristo Senhor. Assim, o Evangelho de Mateus é o Evangelho do cumprimento das Sagradas Escrituras. Jesus cumpre a vontade do Pai que já estava determinada pelos antigos Profetas. Quando Jesus muda de Nazaré para Cafarnaum, Mateus vê aí a realização última e definitiva daquilo que já acontecera uma vez no tempo de Isaías: “O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz”, que é o Cristo presente junto ao povo de Cafarnaum. A presença de Jesus em Cafarnaum e Neftali, atormentadas terras pelas deportações assírias era a manifestação de que Deus estava socorrendo aquela gente: “O povo que ficara nas trevas veria uma nova luz”. Segundo Mateus, a mudança de Jesus para esta região significava o cumprimento da vontade do Pai, por isso era necessário ascender ao convite do próprio Jesus: “Convertei-vos, o Reino de Deus chegou!” (cf. Mt 4,17).

A Primeira Leitura(cf. Is 8,23b-9,3) nos apresenta esta luz que surge sobre os que estão nas trevas – no ano de 732 houve a deportação das tribos galiléias – Zabulão e Neftali – para a Assíria. Mas nas trevas desta situação brilha uma luz de esperança: o nascimento de um filho real, cujo nome simbólico é Emanuel, ou seja, Deus Conosco.

A Segunda Leitura(cf. 1Cor 1,10-13.17) nos apresenta o apóstolo que é mandado para evangelizar, não para criar partidos sectários. São Paulo iniciou esta carta com o tema da unidade, para agora censurar as divisões ou panelinhas. Há torcedores de Paulo, outros de Apolo, outros de Cefas. A isso, São Paulo faz três perguntas que significam que pouco importa o carisma pessoal do missionário; o centro é Jesus Cristo.

Estimados irmãos,

Pela conversão somos introduzidos na família de Deus. Jesus, na alegoria de São Mateus(cf. Mt 4,1-12-23 ou Mt 4,12-17), ao recordar Isaías, é a plenitude dos tempos e de todas as promessas. Mateus demonstra que a pregação de Jesus é salvadora e religa o homem à vida imortal de Deus. Mateus nos introduz na pedagogia de Jesus que nos pede um novo modo de viver, sem distinção de raça e culturas, com a condição única de uma conversão sincera, autêntica, evangelizadora e santificadora. Por isso hoje somos convidados a nos converter com sincera vontade e desejo.

A graça de Deus está presente no mundo e é uma verdade inexorável. Entretanto, também está presente no mundo a maldição para os que rejeitam o Cristo e preferem continuar cegos no meio da luz salvadora. O destino reservado a Cafarnaum será o destino dos que preferem permanecer na treva. O tema da luz, como motor da salvação, está presente em toda a liturgia de hoje.

Dentro do programa de salvação de Jesus, Ele começa a falar da salvação anunciando que João Batista está preso. Preso inocente, por fidelidade a Deus, ao anunciar que alguém mais importante do que ele viria batizar com o Espírito Santo. É à vontade de Deus que acompanha Jesus, a partir deste Evangelho, no início de sua vida pública. E tudo o que acontecer com o Senhor é a mais genuína vontade de Deus.

Jesus, no Evangelho de hoje, volta para a Galiléia. A Galiléia é o campo da missão, do trabalho missionário de Jesus. A profecia de hoje coloca o tempo e o espaço, enaltecendo o lado humano de Jesus, e a missão salvadora, ou seja, a luz, o lado divino de Jesus, distinguindo as suas duas naturezas.

Meus caros irmãos,

Cafarnaum não aceitou a pregação de Jesus e será comparada a Sodoma – cidade que simboliza o pecado – e condenada com rigor, conforme Mateus 11,23ss. Mateus insinua a sorte dos que, apesar de receberem a graça da salvação, não a aceitam, desprezam-na e assim se autocondenam. Mateus chegou a chamar Cafarnaum “sua cidade”, isto é, cidade de Jesus, e apesar de tanta honra concedida, Cafarnaum não quis a luz da graça salvadora (cf Mt 9,1). Em Cafarnaum habitavam pessoas de várias raças, desde gentios a hebreus. Por isso, ao falar de Cafarnaum, Cristo nos anuncia que vem para todos, e não só para os hebreus. Cristo vem como luz para desfazer trevas, vem para vivificar a morte. Luz significa vida e salvação. O centro da pregação de Jesus é a vida e a salvação. A pessoa de Jesus, em si mesma, é vida e salvação. Ao homem cabe deixar-se iluminar por essa luz. Por isso, mas para frente, Jesus vai dizer: “Eu sou a luz do mundo”(Cf.  Jo 8.,12), completando para o povo ao exclamar: “E vós sois a luz do mundo”(Mt 5,14).

Ao começar, no dia de hoje, a sua vida pública Jesus escolhe os primeiros apóstolos. Não os escolhe entre os doutores, os estudados, os letrados, os poderosos, os sabidos, mas os elege dentre os que são pecadores, gente muito mal vista pelos maiorais, porque, como pecadores, não podiam observar todas as leis e, por isso mesmo, eram considerados “pecadores”. Mas, era sobretudo para os pecadores que Jesus começava a vida pública, era sobretudo ao coração e à mente dos simples e “pecadores”que pedia para se voltarem – se converterem – para Deus, porque era sobre eles que o Pai do Céu queria derramar toda a sua misericórdia.

Estimados amigos,

O Evangelho de hoje nos ilumina para duas reflexões: a conversão e o Reino de Deus. Implantar na terra o Reino de Deus é a razão pela qual Jesus se encarnou, morreu e ressuscitou. E pertencer a esse Reino é a razão pela qual o homem aceita a pessoa e a doutrina de Jesus. No esforço de afastar tudo o que impede essa aceitação está a conversão.

A salvação foi trazida por Jesus. A escolha dos homens e mulheres é livre! Os discípulos aceitaram o vinde e Vede e seguiram a Jesus e passaram a ouvir a sua pregação. Depois da audição é necessário a vivência, a abertura a esta pregação, programa de vida, de conversão e, por conseguinte, de santidade. Esse esforço de conversão é de cada um, sendo até um “combate espiritual”.

Por isso ao falar da proximidade do Reino de Deus Jesus nos anuncia que a conversão deve ser urgente, deve ser rápida, para que o Cristo passe a viver e dominar com a sua graça a nossa vida. Por isso a conversão é o primeiro passo para o seguimento, ou seja, refazer os mesmos passos de Jesus, querer a mesma vontade de Deus Pai e santificar a vida de todos.

Como Cristo, também a Igreja deve, hoje como sempre, empenhar-se em libertar o homem do pecado, pois o anúncio da conversão é o fim primário que justifica a sua própria existência. Nela deve manifestar-se constantemente a liberdade do Espírito no serviço recíproco, no reconhecimento e na coordenação dos dons que Deus faz a cada um dos fiéis, e assim deveria ser, diante do mundo, o sinal visível do reino de Deus na terra. Por isso, a Igreja como instituição também é continuamente interpelada e julgada pela palavra de Deus. Também a Igreja está em estado de conversão permanente. O cristão que, movido pelo Espírito, está aberto e dócil à Palavra de Deus, segue um itinerário de conversão para ele... que pode comportar, ao mesmo tempo, a alegria do encontro e a contínua exigência de ulterior busca; o arrependimento pela infelicidade e a coragem de recomeçar; a paz da descoberta e a ânsia de novos conhecimentos ; a certeza da verdade e a constante necessidade de nova luz. 

À Luz do Evangelho procuremos ver a Deus, numa conversão sincera, em que o Cristo seja a luz santa de nossas vidas, Amém!



 
 

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