Liturgia Dominical
 
33º Domingo do Tempo Comum - A
 
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Meus pensamentos são de paz e não de aflição, diz o Senhor. Vós me invocareis, e hei de escutar-vos, e vos trarei de vosso cativeiro, de onde estiverdes(cf. Jr 29,11s.14)

Meus queridos irmãos,

A liturgia deste domingo é toda escatológica. A oração do dia da Santa Missa nos fala da felicidade completa, ou seja, a paz, que é o fruto do serviço dedicado ao Senhor. Disso fala a parábola dos talentos, mais conhecida do que compreendida. Convém interpreta-la bem. Seu lugar, no encerramento do evangelho de Mateus e do ano litúrgico, orienta a interpretação, exprimindo o critério final de nossas vidas. Portanto, o acento principal não está na diversidade dos talentos, dos dons, mas no valor decisivo do serviço empenhado. A Primeira Leitura, retirada do Livro dos Provérbios, cita o talento feminino como exemplo, mas deve ser situada na intenção escatológica do conjunto da sagrada liturgia.

Todos nós somos convidados a investimos diligentemente no fim. Para a volta do Senhor, ou seja, a Parusia, para a participação definitiva no seu senhorio, deveremos prestar contas daquilo que tivemos recebido, no sentido de tê-lo utilizado e não escondido. É como a luz que não deve ser colocada debaixo do alqueire(Cf. Mt 5,14s) e a advertência concomitante – com a medida com que medirdes, sereis servidos. Em outras palavras, ou seja, o que recebemos deve frutificar em nós. A mensagem central, é, portanto, a diligencia. Deus nos confiou um tesouro, e devemos diligentemente aplica-lo na perspectiva do sentido último e final de nossa existência, que é Deus mesmo.

Irmãos e Irmãs,

Jesus compara no Evangelho de hoje(cf. Mt 25,14-30) o Senhor rico e a si mesmo. Ele veio de fora, veio do céu, comprou com sua vida os campos – a humanidade – e todos os bens da terra. E partiu para uma viagem. A palavra viagem indica um retorno. Jesus retornará da glória celeste á terra. Ao partir, deixou os empregados – as criaturas humanas – cada um com sua responsabilidade, a fazer frutificar os campos e a desenvolver os bens, deixando a cada um a liberdade de ação e a escolha do modo de trabalhar.

O grande tesouro que Jesus fala hoje não são os bens materiais. O grande tesouro que Jesus deixou em nossas mãos para fazer frutificar é a sua Palavra divina, embora não se excluam os bens materiais.  O talento deixado por Jesus é a Palavra pregada, a Palavra escutada, a Palavra que se torna grã;a e verdade, a Palavra que se multiplica para alcançar os confins da terra, a Palavra encarnada na pessoa divino-humana de Jesus de Nazaré, o Cristo bendito de Deus.

Caros irmãos,

Aqui na terra vivemos o templo a planta;ao, floração e frutificação de nossa vida. E nós não somos os donos do espaço e do tempo de nossa vida. Somos criaturas de Deus, pertencemos a Ele. Somos servos do Senhor, como bem disse a Virgem Maria, na Anunciação(Cf. Lc 1,38). Por mais que trabalhemos nesse mundo, por mais coisas que realizemos, devemos dizer que somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer. Desde o inicio da criação humana existe a tentação de a criatura pensar-se igual ao seu criador e até usurpar-lhe o lugar. A parábola de hoje nos recorda que temos imensos tesouros não só a tutelar, mas a aumenta-los, a trabalhar com eles, a transformá-los. 

Quando Jesus voltar Ele pedirá conta do que fizemos de sua Palavra salvadora. Estamos tentados a pensar que os que ganharam mais talentos sejam os bispos, os sacerdotes, os religiosos. Penso que os leigos têm as mesmas chances dadas por Deus, porque em Deus não há distinção de pessoas. Um dos elogios dados a Jesus foi o de ele não fazer acepção de pessoas.

Queridos irmãos,

Todos nos somos conclamados a plenitude da vida crista, a perfeição na caridade. Somos chamados a usar todas as nossas forças na busca da santidade da comunidade e na santidade pessoal. Os dons são de Deus, nos são dados para faze-los crescer, e serão devolvidos acrescidos a Deus, que é seu verdadeiro dono. Nós e nossos dons pertencemos ao Senhor. Vivemos para o Senhor, trabalhamos para o Senhor.

Assim, embora sejamos servos de Deus, pelo simples fato de sermos criaturas suas, embora tudo quanto fizermos com os dons que Ele nos deu, o fazemos para Ele, se lhe formos fiéis, não nos tratará como servos, mas como amigos, porque reparti convosco tudo quanto ouvi de meu Pai. A grandeza da parábola é esta – de fato, amigo é aquele com quem reparto o mais íntimo de meu ser, do meu coração, de meu ser. E na parábola de hoje, o Senhor, reparte o que tem e o que é com os servos fiéis e operantes. O próprio Cristo fala que te confiarei muito mais e partilharas de minha alegria. O Senhor, assim, estabelece uma comunhão de bens e a alegria dessa comunhão entre o Criador e a criatura.

A generosidade de Jesus é infinda, ela é comunhão. O premio que Deus concede aos servos fiéis é abundante. Por isso não durmamos, a exemplo dos outros, mas vigiemos e sejamos sóbrios. Assim estamos nos preparando para o último encontro com o Senhor para sempre.



 
 

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