Com a palavra...
 
E Deus visitou o Seu povo (X Domingo)
Por: Dom João Bosco Óliver de Faria
Administrador Diocesano de Patos de Minas e Arcebispo Eleito de Diamantina
 
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Agrada-me observar os limites da criação. A corda, conforme sua consistência, suporta um limite de peso. Além dele, ela se arrebenta. O motorista, na estrada  encontra, no sono que chega, o seu limite. Se forçar, poderá dormir para sempre. O cão estima o seu dono. Mas não podendo falar, limita-se a sacudir sua cauda. Seu dono, seu senhor, é aquele que pode o que ele não pode. Quem constrói uma casa estabelece, antes, os seus limites: quantos cômodos e de que tamanho.

Deus ao nos criar à Sua imagem e semelhança, com um corpo e um espírito, capazes de amar e sermos amados, colocou em nós os limites do nosso próprio ser. Tais limites foram drasticamente reduzidos pelo demônio que levou o homem ao pecado, à revolta contra o próprio Deus e contra o Seu projeto para nós.

Ninguém quer morrer. A vida, mesmo na doença, na pobreza e nos seus limites, é boa. Recusa-se a doença e os limites, mas é bom viver. Os limites da vida intra-uterina são vencidos no momento do parto. Nasce-se para um mundo de luz, de flores, de montanhas, de lagos e rios, de estrelas e pássaros multicores que cantam. Mas também esta nova realidade está marcada por seus limites.

Como o parto, a morte e a ressurreição quebram os nossos limites. Aguarda-nos uma vida para além desses limites: sem dores, sem lágrimas sem falta de qualquer coisa: uma vida de alegria e felicidade plenas, como a água do mar que vai além dos limites da capacidade do copo que dele se aproxima! E, no entanto, o copo comporta apenas aquela pequena quantidade de água que lhe compossível. Se o copo pudesse desejar, ele não desejaria mais água além daquela de que ele é capaz.

Em Cristo, Deus visita o Seu povo e lhe mostra o Seu poder para além dos limites humanos. A vida do filho da viúva de Naim foi reanimada para mais tarde voltar a desfalecer. A ressurreição de Cristo é mais que uma reanimação. Lança-nos em uma nova vida para além dos nossos limites e das nossas expectativas. Lança-nos numa vida plena e sem fim, onde a felicidade e a alegria excedem os nossos parcos limites. Cristo é a Vida. “Eu sou a Ressurreição e a Vida: aquele que crê em mim, mesmo que morra, viverá” Jo 11, 25.  “Não vivam mais para si mesmos, mas para Ele” 2 Cr 5, 15.

Berditschev,  rabino polonês, místico, escreveu a seguinte oração: “Onde quer que eu vá, Tu! Onde eu pare, Tu! Só tu, ainda sempre Tu! Se vou bem, Tu! Se sofro, Tu! Só tu, ainda Tu, sempre Tu! Céu, Tu, terra, Tu, para onde eu me volte, Tu, para onde eu olhe, Tu, só Tu, ainda Tu, sempre Tu” (Em M. Buber, I racconti dei Chassidim).



 
 
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