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O Deus da paz
 
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A longa série de exortações visando ao crescimento da comunidade cristã (1 Ts 5,12-22) termina com a oração do apóstolo, pedindo a Deus que santifique aqueles que ele mesmo chamou. Esta breve oração não é a conclusão só da segunda parte da carta (cap.4-5), pois é possível notar que retoma a súplica no fim da primeira parte (1Ts 3,11-13), mas é a conclusão final do escrito inteiro.

De fato, é muito significativo que a carta termine deixando aberto o espaço para a invocação, para iluminar o itinerário de fé de qualquer comunidade cristã. Sendo a Igreja uma realidade histórica construída simultaneamente por Deus e pelos homens, é natural que permaneça aberto o espaço onde acontecem as relações entre os dois parceiros.

Toda a tradição bíblica é testemunha disso. Paulo invoca o "Deus da Paz" porque é Ele que doa a seu povo a salvação no sentido de plenitude de harmonia e de felicidade, tão bem expressa pelo termo hebraico "shalom" e pelo termo grego "eirene". Pode ser que o Apóstolo, mediante esta súplica, lembre as belíssimas expressões dos profetas e dos salmos. Com efeito, é Deus que "faz correr a paz como um rio e a glória das nações como torrente transbordante" ( Is 66,12; cfr. Is 48,17-18). O salmista assim se exprime: "Vou ouvir o que Javé -Deus diz, porque ele fala de paz a seu povo e a seus fiéis" (Sl 85,9-14).

Profundamente marcado pela tradição bíblica, Paulo pede a intervenção divina a fim de que, ele mesmo, o Deus Santo, leve à plenitude a sua obra de santificação nos Tessalonicenses????. Trata-se de reconhecer, como sempre, a iniciativa divina na história humana, como já foi assinalado no início da segunda parte da carta (4,3.4.7) onde a questão da "santidade" e da "santificação" exprimem a vontade de Deus.

De um lado, trata-se de um processo de aperfeiçoamento que leva a comunidade ao encontro com Deus e, de outro, da tarefa da comunidade em ser testemunha da santidade divina no mundo. Neste sentido, a comunidade cristã recebe do Deus Santo a missão de "santificar" não só a própria vida, mas também o mundo e a história. Por este motivo, Paulo mostra que a eficácia desse processo de santificação só pode ser efetiva, se houver participação humana integral ("corpo, alma, espírito"). Mediante essa trilogia (em todas as cartas aparece só aqui), Paulo quer indicar a pessoa humana em sua totalidade, como destinatária da obra santificadora de Deus. Tudo isso para os membros da comunidade acaba se transformando em compromisso de permanecerem preparados ("guardados de maneira irrepreensível") para o encontro com o Senhor.

Todos os encontros são importantes e significativos ao longo da história, desde que não se perca de vista o "encontro conclusivo" não só da própria vida, mas da história inteira: "o dia da 'parusia'(= vinda) do Senhor nosso Jesus" A motivação dessa exigência de preparação permanente, integral e total da comunidade, está alicerçada na fidelidade divina: "Fiel é quem vos chama e fará tudo isso" (5,24).

Podemos ver nesta expressão, um convite para que a comunidade cristã tenha uma profunda confiança em Deus, porque ele não só chama "ao seu reino e à sua glória" (2,12) ou "à santidade" (4,7), mas também sustenta e anima a vida dos fiéis, mediante a sua própria Palavra "que age em vós, os fiéis" (2,13). Através dessa súplica, fortemente evocativa da fidelidade de Deus, Paulo mostra à comunidade que ela está profundamente inserida no projeto divino de salvação. O "Deus da Paz" é o "Deus fiel" que chama constantemente a comunidade cristã a levar uma vida íntegra, pois a fidelidade e a ação divina são a garantia de sua Presença permanente e, ao mesmo tempo, exigente na vida dos tessalonicenses.

Autor: Sergio Bradanini
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