Ser missionário
 
Docilidade ao Espírito
 
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O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos fará recordar tudo o que eu vos disse" (Jo 14, 26). É óbvio que esta expressão deve ser lida e compreendida de acordo com a visão de conjunto do capítulo 14. De fato, com uma leitura atenta, o texto parece dar ênfase primeiramente à presença divina na vida dos discípulos, pois as figuras do Pai, do Filho e do Espírito são sempre relacionadas com eles. No entanto, a expressão de 14, 26 evidencia também um outro ponto de vista: revela a situação atual dos discípulos.

Eles estão experimentando momentos de profunda perplexidade e de forte turbulência ("não se perturbe o vosso coração": 14, 1). Por isso mesmo, Jesus lhes dirige palavras de encorajamento e lhes promete o dom do Paráclito. Não é difícil perceber que o evangelista tem em mente o horizonte atual de sua Igreja, em que a comunidade enfrenta sérias dificuldades e muitas incertezas na sua caminhada histórica. Os discípulos estão vivendo momentos de profunda tensão entre a 'memória' do passado (o drama da paixão e da morte de Jesus) e a espera do futuro (a alegria plena do tempo pascal e o dom do Espírito).

É um tempo denso de sofrimento pela "ausência" de Jesus e, ao mesmo tempo, é um tempo de espera, pois os discípulos continuam confiando na promessa do dom do Espírito. Por esse motivo eles são objeto da solicitude e das palavras do Mestre (Note-se o tríplice "vos" da 2.ª parte do v.). É interessante notar que o Espírito Santo é o mesmo "Paráclito" cuja vinda é fruto da oração de Jesus (14, 16) e cuja missão consiste em "permanecer" para sempre com os discípulos. Aqui em 14, 26, parece que João quer mostrar que o Pai vai enviar o Espírito Santo para realizar a oração de Jesus ("em meu nome").

Nesse contexto, a função do "Paráclito" se torna mais compreensível. Com efeito, no âmbito jurídico, este termo designa a função de "advogado" como "alguém chamado para ficar ao lado", no sentido de ajudar e de interceder. A missão do Paráclito como "consolador / intercessor" tem, portanto, uma dupla função: "ensinar" e "fazer recordar". Evidentemente, essa ação do Espírito não entra em concorrência com aquela de Jesus, ao contrário, o seu ensinamento consiste exatamente em reavivar nos discípulos a mensagem e a atividade de Jesus.

É bom lembrar que, de acordo com a Bíblia, o verbo "ensinar" geralmente tem o sentido de interpretar a realidade à luz das Escrituras. Isso já é suficiente para perceber um elo de ligação com a profecia de Jr 31, 33s. que anunciava um tempo em que a Aliança seria gravada no coração das pessoas, e com a profecia de Is 54, 13 que afirmava explicitamente: "Todos os teus filhos serão ensinados por Javé". A partir desse pano de fundo profético, a expressão "O Espírito Santo vos ensinará tudo o que eu vos disse" indica que as antigas promessas se realizaram naquilo que Jesus fez e ensinou aos discípulos em nome do Pai.

A outra função do Espírito consiste em "fazer recordar" toda a mensagem de Jesus. Não se trata de "recordar", pura e simplesmente, um acontecimento que pertence ao passado, mas de reavivar a tomada de consciência a respeito do seu significado presente. A missão do Espírito não se reduz a despertar a memória enfraquecida dos discípulos, mas quer levá-los à compreensão do sentido profundo do "evento-Jesus", fazendo com que eles interpretem a própria história de acordo com o acontecimento pascal.

Ora, os discípulos vivem, ainda hoje, em constante tensão entre, de um lado, as feridas e as dilacerações da história e, do outro, uma profunda experiência do amor de Deus. Por isso, na docilidade à ação do Paráclito, dom do Pai em nome do Filho, os discípulos encontram a alegria e a paz (14, 27). Pelo mesmo motivo, a comunidade cumpre sua missão de ser um lugar onde se manifesta a gratuidade do amor e do perdão.

Autor: Sérgio Bradanini
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