“Vieram apressados os pastores, e encontraram Maria com José, e o Menino deitado no presépio”. (cf. Lc 2,16).
Meus queridos Irmãos,
Depois de contemplarmos o presépio vivendo ainda a oitava do Santo Natal a Igreja, peregrina e santa, nos convida a refletir sobre a realidade da família de Deus, que é a realidade de nossas famílias da terra. A Sagrada Família passou por alegrias, dificuldades e também por grandes sofrimentos. Após o episódio do Templo, em que aparece no meio dos doutores da lei, os pais de Jesus reconheceram a sua missão específica. Eles não põem nenhuma objeção à vontade do Pai. Nesta família reinou a caridade e a ajuda entre todos, a chamada ajuda mútua, os elementos fundamentais da vivência familiar.
Meus caros amigos,
Porque celebrar a família de Deus? Tudo isso para sublinhar que Jesus teve um ambiente histórico e social. Ele teve necessidade de afeto e de cuidados como qualquer outra criança. Isso tudo ilumina nosso itinerário cristão para que os cristãos mirem na Sagrada Família para que, seguindo seus exemplos, possamos crer no Filho de Deus, o Cristo Redentor da Humanidade.
A Sagrada Família foi uma família do cotidiano. Foi uma família de pessoas normais. Jesus assume a profissão de seu pai votivo, São José, e faz desta profissão o sustento de sua família. Uma profissão é, verdade, que fica bem em Jesus, porque ela lembra construção, e Cristo será o construtor do Reino de Deus entre os homens, neste vale de lágrimas. Construtor de nossas caminhadas re-criando e aperfeiçoando as coisas, o mundo e, particularmente, as pessoas.
Como era a família de Jesus? Certamente como toda família de hebreus, alicerçada sob a fé, profunda fé, observando as leis da antiga aliança, pautando a sua vida pelos valores propostos pelos profetas, pelos livros sapienciais e pelas Leis de Moisés. Os pais de Jesus, Maria e José, eram homens profundamente tementes a Deus, abertos completamente a misericórdia de Deus Pai, tendo educado seus filhos na Lei e na constância do Senhor da Vida. Uma família simples, pobre, que viveu a normalidade do tempo de antanho. Contingenciados pela ocupação romana, sendo obrigados a recolherem impostos elevadíssimos viviam uma vida difícil como todos os seus contemporâneos.
E como era a vida do jovem Jesus? Jesus foi levado ao templo no seu 12o. ano. Isso significa que foi antecipado em um ano a sua peregrinação. Mas a simbologia é rica: Jesus vai aos 12 anos ao Templo para demonstrar que vai passar a sua vida voltada para as coisas de Deus. Jesus vai viver uma missão que lhe foi confiada pelo Pai. Não vai viver em benefício do Templo Edifício, mas vai reerguer o próprio Templo, no terceiro dia, com a sua Ressurreição Gloriosa.
Jesus está diante dos doutores para ser submetido a um exame de seus conhecimentos da Lei de Deus. Exame que poderia ser feita na sinagoga de sua cidade ou no Templo de Jerusalém. O Evangelista faz com que Jesus vá espontaneamente ao exame no Templo. Porque espontaneamente? Para demonstrar que ele assume a nossa humanidade e morre na Cruz pela nossa salvação com grande gratuidade e imensa generosidade, profunda espontaneidade.
O Evangelista faz com que os doutores admirem a sabedoria de Jesus. Mas não poderia ser diferente, afinal Jesus é a promessa, é o santo dos santos, é a cepa de Jessé.
Maria e José procuravam com sofreguidão por Jesus: aqui está a humanidade da sagrada família que sofre e quer proteger o seu Filho. Este gesto demonstra bem o fio condutor do novo Testamento: a criatura humana é um ser à procura de Deus, que parece estar despreocupado conosco. Todos temos essa experiência. Se Maria e José, que conviviam fisicamente com ele, devem sair à sua procura, quanto mais os que como nós só podem viver com ele pela fé.
Mas, depois do desencontro, Jesus volta com seus pais para a sua casa. A obediência de Jesus é maior do que a obediência ao pai e a mãe terrenos; ela se prende à vontade do Pai do Céu.
Em momento nenhum o Evangelista fala em menino prodígio para Jesus, mas um menino comum, como seus colegas no seu tempo. Apesar da sabedoria demonstrada por Jesus no templo São Lucas exorta: “Jesus crescia em sabedoria, idade e graça diante de Deus e diante dos homens”.(cf. Lc 2,52).
Meus irmãos,
São Lucas proclama que Deus é Pai. Jesus, na sua vida pública, demonstra outro rosto de Deus: Deus que é o pai de toda a humanidade, sem acepção de pessoas, um pai compassivo, misericordioso, bondoso, que perdoa e que ama. Todas as virtudes do Pai Eterno que os cristãos são convidados, com insistência, a viver na sua vida diária, nos seus relacionamentos, na sua vida de comunidade, na sua vida de paróquia, na sua vida de Igreja Particular e Diocesana, na sua vida de Igreja como “Ecclesia”.
Existe hoje uma campanha diária e sorrateira para destruir a Família. A própria Conferência dos Bispos nos perguntou recentemente na campanha da Fraternidade: “E a família como vai?” A família vai mal porque Jesus não ocupa mais nas famílias o centro do lar cristão, mirado na Sagrada Família de Nazaré. O futuro da Igreja e da humanidade passa pela família. Por isso a festa de hoje nos vem lembrar que Jesus, podendo ter escolhido outros caminhos para a sua encarnação, escolheu a via natural da família como ponto de partida para criar a nova Família de Deus entre os homens e a mulher neste vale de peregrinação.
Caros irmãos,
A Primeira Leitura desta festa(cf. Eclo 3,3-7.14-17) apresenta regras para a vida familiar. Regras de sabedoria judaica para a vida em família. Prevalecem o respeito dos pais, o bom comportamento e o bom senso.
A Segunda Leitura(cf. Cl 3,12-21) nos fala do amor de Cristo, fundamento das regras da vida familiar. Paulo cita brevemente as regras da boa família henelística. A norma, porém, de tais regras não é o mero “bom comportamento”, mas Cristo mesmo. Ele dá aos homens viverem juntos na paz e no amor. Isso vale para a família e para a comunidade. Onde vive a paz, a Palavra de Cristo encontra acolhida; aí também descobre-se a alegria na oração e no trabalho em comum, cada dia.
Irmãos e Irmãs,
Devemos, em sintonia com a V Conferência de Aparecida, valorizar a formação permanente da catequese de nossas famílias, ressaltando a necessidade da oração em família, do compromisso familiar e da inserção de nossas famílias nas iniciativas pastorais, da qual ela é indiscutivelmente o centro.
Rezemos, pois, para que nossas família se tornem Templo de Deus, Casa da Vida, quando todos os seus membros procurarem traduzir em suas vidas o que São Paulo escreve aos colossenses sobre a família: “Revesti-vos de sentimentos de compaixão, longaminidade, suportando-vos uns aos outros com amor, e perdoando-vos mutuamente, se alguém tem motivo de queixa contra o outro(cf. Cl 3,12-21). Aqui está a lição de casa para cada família que hoje celebra conosco a Sagrada Família. Todos somos convidados a transformar nossas famílias numa verdadeira ação de graças. Nas nossas famílias Cristo está se manifestando.
Por isso cantemos com o Pe. Zezinho: “Abençoa Senhor a família Amém! Abençoa Senhor a minha também!”.
Que a Sagrada Família, Jesus, Maria e José abençõe as nossas famílias. Amém!
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