“Batizado o Senhor, os céus se abriram e o Espírito Santo pairou sobre ele sob forma de pomba. E a voz do Pai se fez ouvir: Este é o meu Filho muito amado, nele está todo o meu amor!”(cf. Mt 3, 16s).
Meus queridos Irmãos,
Solenidade memorável a liturgia da Igreja nos apresenta nesta quadra inicial do ano de 2010: recordamos o Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo, com a precípua finalidade de relembrarmos o nosso Batismo. Batismo que nos introduz na vida da Igreja, lavando nosso pecado original e nos tornando membros da única e santa Igreja de Jesus Cristo. Como especialista em direito o que mais me fascina é a acertiva dos tratadistas canônicos que afirmam com grande cúria: “Pelo Batismo tornamos cidadãos do céu, fiéis com direitos e com deveres na Igreja de Cristo, aptos para a vida de comunidade”.
Batismo que significa uma renovação dos compromissos com a nova evangelização e uma fidelidade ao projeto de Deus, expresso na ação e nas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo. Também com a solenidade do Batismo do Senhor encerramos o tempo santo do Natal.
Irmãos e Irmãs,
A primeira indagação de nossa liturgia de hoje deve ser a seguinte: Por que Jesus foi batizado? Para que batizar uma pessoa, que é Deus, e que não tinha pecado original? O Batismo de Jesus tem um significado especial, porque ele assinala o início da vida pública de Nosso Senhor. Toda a narrativa do Evangelho de Lucas fala das qualidades daquele que vem salvar a humanidade: maior que o grande e penitente, o profeta João Batista, filho muito amado do Pai, cheio do Espírito Santo que desce sobre ele em forma corpórea, e com ele permanecerá e dele será a testemunha através dos tempos; será o Cordeiro de Deus, que carregará todos os pecados, ou seja, será o salvador, o redentor da humanidade, o caminho que une o céu à terra, o garante da fidelidade da nova e eterna aliança.
O batismo que hoje lembramos caminha para outro batismo que recordaremos na Páscoa: a morte e ressurreição de Jesus. Quando os filhos de Zebedeu pedem a Jesus o privilégio de se assentarem um à direita e outro à esquerda na glória, Jesus lhes pergunta: “Aguentareis ser batizados com o batismo com que tenho de ser batizado?”(cf. Mc 10,38). Tudo isso para indicar que é pela morte que Jesus se torna a pedra fundamental de um novo mundo. E é pelo batismo que nós somos introduzidos nesse mundo novo, mas será pela morte a nós mesmos que nos tornamos pedras vivas da Casa de Deus, para usar uma expressão do primeiro Apóstolo, São Pedro.
No Evangelho de hoje(cf. Lc 3,15-16.21-22) João Batista, o precursor, o último profeta do Antigo Testamento, anuncia que Jesus vai batizar com o Espírito Santo, pois ele estava batizando com água. Manifestação ou anúncio do poder messiânico de Jesus, porque a força do Espírito Santo é capaz de purificar, de fortalecer, de restaurar, de quebrar as cadeias dos prisioneiros, de dar luz aos cegos e, sobretudo, de justificar, isto é, de fazer a criatura humana cumprir a vontade de Deus com amor filial. Assim, quem cumprir este caminho, pode ser como o Espírito de Jesus, o espírito da Santidade.
Meus irmãos,
O mandato do Batismo é do próprio Senhor Jesus que na hora da Ascensão, aludindo ao poder que tinha no céu e na terra, mandou batizar a todos os povos(cf. Mt 28,18-19). Assim, São Paulo, com grande cúria, numa de suas epístolas aos Efésios ensinou que: “Fortes selados com o selo do Espírito Santo” e este selo será o bilhete para a herança eterna, para a vida em Deus, para a vida da graça e da santidade.
Porque se deixar batizar? Não somente para se ver livre do pecado original, mas mais do que tudo isso, é aceitar a Jesus, é ter consciência da vida de fé que é chamado a participar da comunidade.
Outra dimensão importante do batismo é a dimensão missionária, porque todos nós queremos ver Jesus no clamor dos bispos brasileiros, dentro do mutirão da nova evangelização, e, particularmente, dentro do espírito permanente das missões que nos iluminou a V Conferência Geral do Episcopado Latinoamericano de Aparecida. Ver Jesus é exercitar nosso batismo, que é acima de qualquer coisa estabelecer uma santa sintonia entre as profecias anunciadas na primeira leitura e a missão de Jesus, professada no Evangelho pela manifestação do Espírito Santo, e colocada em prática pela Igreja militante que peregrina neste mundo de contradições, de sofrimento e de dor.
Meus caros irmãos,
A Primeira Leitura(cf. Is. 42,1-4.6-7), de Isaías, descreve aquele homem justo – cuja identidade a distância do passado apagou – que animou o povo judaico durante o exílio babilônico. A escola de Isaías lhe consagrou quatro cantos: os cantos do “Servo de Javé”. No primeiro canto, lido hoje ouvimos a eleição deste servo predileto de Javé, para levar ao povo e mesmo às “ilhas”(os continentes, os outros povos) a verdadeira religião, isto é, o verdadeiro conhecimento do Deus de misericórdia e fidelidade. Ele é aliança com os povos, luz das nações, para restaurar a paz e a felicidade de todos os oprimidos. Reconhecemos aqui o quase trágico universalismo dos judeus, que, no seu Exílio, tomaram consciência de serem as testemunhas do verdadeiro Deus no meio das nações.
A Segunda Leitura(cf. At 10,34-38) é o resumo do “querigma” ou anúncio dos Apóstolos ao mundo, proclamando a missão de Jesus como Messias e Filho de Deus, a partir de seu batismo por João. Em At 10, esta proclamação é feita aos pagãos, amigos do centurião Cornélio, o que dá um tom específico de universalismo a esta leitura.
Caros irmãos,
A liturgia de hoje não deixa de mencionar nosso próprio batismo e a filiação divina. De fato, se nós continuamos realizando o sinal de João Batista, é exatamente porque queremos unir-nos com Jesus que, neste sinal, assumiu a vontade de Deus e sua missão. Nosso batismo, portanto, nos torna partícipes da missão do Servo e Filho amado. Também nos qualifica como filhos, embora a nossa vida, com a graça de Deus, ainda deverá tornar-nos plenamente o que somos chamados a ser.
Assim o Espírito Santo de Deus desceu sobre Jesus enquanto rezava. Ele desce também sobre a comunidade dos fiéis reunida em oração, comemorando sua descida sobre Jesus no Rio Jordão. Ele nos fará reconhecermos como filhos e filhas muito amados de Deus em Jesus Cristo e dar testemunho desta vida no mundo. Essa é a nossa missão, nesta peregrinação que iniciamos com Jesus no início do tempo comum. Amém!
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