“Meu Deus, vinde libertar-me, apressai-vos, Senhor, em socorrer-me. Vós sois o meu socorro e o meu libertador; Senhor, não tardeis mais”(cf. Sl 69,2.6).
Meus queridos Irmãos,
Neste domingo do tempo quotidiano, chamado 18o Domingo do Tempo Comum, celebramos o inicio do mês de agosto, na Igreja Católica, dedicado a refletirmos, domingo a domingo, uma vocação específica de nossa fé cristã. Assim, hoje junto com a dignidade do trabalho humano, onde o importante é SER RICO PARA DEUS, tema central de nossa reflexão, vamos elevar nossos olhares sobre os presbíteros e bispos, tendo em vista que celebramos no dia 04 de agosto, a memória de São João Maria Vianney, patrono de todos os presbíteros, exemplo de dignidade sacerdotal e de pastor de virtudes peregrinas no carinho do trabalho pastoral e na solicitude para com os fiéis.
Irmãos e Irmãs,
A liturgia de hoje nos lembra que basta uma crise financeira para que os homens e mulheres se lembrarem da precariedade dos tesouros deste mundo. O Evangelho de hoje nos fala de atitudes comezinhas na vida familiar: A briga de irmãos sobre uma herança; querem que Jesus resolva o impasse. Jesus não se interessa: sua missão é outra. Que adiantaria, para o Reino de Deus, impor a esses dois irmãos uma solução que, provavelmente, não os reconciliaria? Para Jesus interessa que a pessoa se converta para os valores do Reino de Deus. Jesus, no seu modo simples de colocar os tesouros eternos, conta à parábola do rico insensato, que depois de uma boa safra achou que poderia descansar para o resto de sua vida e viver daquilo que guardara em toda a sua vida. Coitado, na mesma noite Deus viria reclamar sua vida... Jesus não quis denunciar o desejo de viver decentemente, mas a mania de colocar sua esperança nas riquezas e poderes deste mundo, esquecendo reunir tesouros junto a Deus. As riquezas não são um mal em si, mas desviam a nossa atenção da verdadeira riqueza, a amizade com Deus, que alcançamos pela dedicação a seus filhos.
Caros irmãos,
A Primeira Leitura(cf. Ecl 1,2; 2,21-23) nos interpela com a seguinte pergunta: Para que a riqueza e o saber? O Antigo Testamento gosta geralmente da vida. O Livro do Eclesiastes, porém, dedica-se ao ceticismo. Ataca o leitor com perguntas inoportunas. Que é o homem? Por que existe? Aonde vai? Para que servem a riqueza e o saber, dificilmente alcançados e tão facilmente perdidos na hora da morte? É como um vento que passa. Que sobra? Estas perguntas nos preparam para valorizar o “tesouro junto de Deus” que nos aponta Lucas na missa de hoje.
A Segunda Leitura(cf. Cl. 3,1-5.9-11) nos apresenta uma nova vida em Cristo. No final de sua epístola, São Paulo mostra aos colossenses as exigências que coloca ao cristão a vida nova, que é: morrer e corressuscitar com Cristo. A comunhão com Cristo não é só para a vida futura; já somos nova criação em Cristo, embora esteja ainda escondida em Deus, como o próprio Cristo. Mas já age, já tem a sua forma definida. Para isso, o velho homem deve morrer, não por uma mortificação que diminui o homem, mas pela vida nova na comunhão, isto é que nos garante um tesouro junto a Deus.
Queridos Irmãos,
A cobiça deve, também, ser considerada nesta liturgia. Junto da cobiça a ganância. A cobiça é a irmã gêmea da avareza que Santo Antônio chamou de “comida do diabo”. Tudo isso porque os bens que amealhamos aqui neste mundo são transitórios e precários. Não se trata de condenar a riqueza em si mesma, criatura boa de Deus ou da inteligência humana. Trata-se de examinar o comportamento em sua dimensão horizontal – para o mundo e para a sociedade – e vertical – para Deus e a eternidade.
Assim o Evangelho de hoje(cf. Lc. 12,13-21) é atualíssimo. Vivemos uma sociedade voltada para o bem estar absoluto, para o hedonismo, para uma vida totalmente sem sofrimento, com a busca desenfreada do ter, do prazer e do consumismo desvairado. As famílias não querem mais filhos. O que se busca é o prazer pelo prazer, um consumismo terrível e um bem-estar eterno.
O Evangelho vai na contra-mão: a felicidade humana não está nem no muito possuir e nem no prazer de dominar.
A ganância é precária e os bens deste mundo somente servem se estiverem a serviço dos irmãos e da edificação de uma vida comunitária. Segundo a lei mosaica para os camponeses, o filho mais velho, além de herdar a casa e o terreno sozinho, herdava ainda dois terços dos bens móveis. É provável que a briga estivesse em torno do terço sobrante. Nesses casos, recorria-se ao doutor da lei, uma espécie de advogado, teólogo e juiz. Vemos, então, que Jesus era considerado pelo povo como um advogado, ou como uma pessoa justa. Mas Jesus, evitando tomar o lugar dos juristas, para que ninguém pudesse acusá-lo de usurpar poderes, fala da cobiça e da avareza. O episódio de hoje é fascinante: alguém herdara todos os bens, menos uma pequena parte, que devia ser repartida entre os irmãos, e negava-se a fazê-lo, porque queria a herança inteira para si. Uma ganância forte, que não só feria os direitos dos outros, mas também, e, sobretudo, o amor fraterno, sobre o qual Jesus queria construir o novo povo de Deus.
Irmãos e Irmãs,
A ganância sempre deixa o homem desassossegado. Santo Agostinho disse que a ganância não respeita nem Deus, nem o homem, não perdoa nem o pai nem o amigo, não considera nem a viúva e nem o órfão. Em torno de nós está a confirmação. Para se compreender e viver o Evangelho temos que ser desapegados. Deus primeiro nos criou. Depois do direito a vida nos deu a liberdade. A vida pertence a Deus. Ele a dará e ele a tirará. Os grandes mestres da vida, quando falam da precariedade dos bens, costumam apontar o dedo para o mistério da morte, que nos quer nus, como nus saímos do ventre de nossa mãe. Mas do que riquezas neste mundo devemos ser ricos diante de Deus, sempre procurando a misericórdia e a caridade.
Assim, para levar a sério à advertência do Evangelho e necessário rever os critérios de nossas vidas. Precisamos acreditar que nossa vida é diferente daquilo que o materialismo nos propõe. A Segunda Leitura, retirada da carta aos Colossenses, nos fornece uma base sólida para tal fé. Co-ressuscitados com Cristo devemos procurar as coisas do alto: o que é de valor definitivo, junto de Deus. E isso não está muito longe de nós. Nossa verdadeira vida é Cristo, que está escondido junto a Deus, na glória que se há de manifestar no dia sem fim.
Vamos, pois, usar os bens que Deus nos concede com liberdade e liberalidade, colocando tudo em benefício do próximo, na partilha e na solidariedade. Com os bens materiais as pessoas podem fazer o bem. Para isso é preciso que elas vivam em atitude de jejum, numa atitude de respeito e de liberdade diante dos bens, sem a eles se escravizar e partilhando-os com o próximo.
Irmãos e Irmãs,
Rezemos com fé no dia de hoje pelos presbíteros que Deus nos concedeu, como dispensadores dos mistérios de nossa fé. Que nós nunca esqueçamos em todos os dias de agosto de rezar pelo Papa, pelo nosso amado Bispo Diocesano, Dom Frei Diamantino, pelo nosso Pároco e pelo nosso clero de nossa amada e centenária Diocese da Campanha. A Igreja nos convoca e nos exorta como missão desta semana e deste mês: É dever da Igreja assumir a sua missão geradora e educadora das vocações. Desprendidos dos bens deste mundo sejamos generosos e misericordiosos em rezar pelas vocações sacerdotais. Amém!
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