“Inclinai, Senhor, o vosso ouvido e escutai-me; salvai, meu Deus, o servo que confia em vós. Tende compaixão de mim, clamo por vós o dia inteiro”(cf. Sl. 85,1ss).
Meus queridos Irmãos,
A liturgia de hoje nos abre os olhos para vermos a universalidade da salvação. Todos nós somos vocacionados para sermos filhos e filhas de Deus. Assim a missão da Igreja e dos batizados é apresentar o convite para o ingresso no Reino de Deus através da conversão, da mudança de vida e da vivência da santidade.
Assim a todos Jesus deu o poder de tornar-se filhos e filhas de Deus. Jerusalém é colocada no Evangelho como o ponto culminante e a meta decisiva, seja pela Cruz de morte e triunfo, seja pela ascensão gloriosa de Jesus aos céus.
Os acontecimentos de Jerusalém nos apressam uma reflexão sobre a realidade última de todos os homens: a irmã morte nas palavras de São Francisco de Assis. A morte que sempre nos transporta para a cidade de Jerusalém com seus dois significados: o final duro, mas feliz, da caminhada salvadora de Jesus e o final positivamente duro e provavelmente feliz de cada homem e de cada mulher.
Tudo é misturado: a morte e a ressurreição de Jesus com a morte e a vida eterna das criaturas humanas.
Caros amigos,
A Primeira Leitura deste domingo(cf. Is 66,18-21) nos apresenta a Revelação universal da glória de Deus. Uma “utopia”, por isso olhar para o futuro nós convidados, como faz o profeta pós-exílico ao encontro da realidade que vem de Deus, seu poder e grandes feitos realizados na História. O profeta concebe Israel como o lugar desta manifestação. De fato, a própria pessoa de Cristo será esse lugar.
Na Segunda Leitura(cf. Hb 12,5-7.11-13) nos é apresentado o sofrimento, pedagogia de Deus. Nossa condição atual é frágil. O Filho de Deus entrou nesta fragilidade, para nos ajudar. Conheceu tentação, sofrimento e morte: aprendeu a obediência. Assim também os fiéis devem passar pela escola de Deus. Chegarão então à justiça, à retidão, à salvação. Deus nos educa para a vida.
Irmãos amados,
São Lucas(cf. Lc 13,22-30) nos ensinou hoje que Jesus anunciava o Reino de Deus pelas suas pregações para todos. Jesus não fez acepção do público destinatário de sua Palavra de Salvação. Pelo contrário Jesus ensinou em todos os povoados, lugarejos, vilas, para pessoas de todas as classes, especialmente para aqueles que estavam à margem da sociedade excludente e repleta de castas de então.
Jesus não determinou o número dos que seriam salvos. Para ser salvo é necessário aceitar o Evangelho, procurar uma boa mudança de vida pela conversão e o perdão dos pecados e a vivência da santidade cristã.
Assim, a salvação foi colocada como UNIVERSAL. A questão da salvação deve ser vista pelo empenho, pelo esforço de conversão e pelo testemunho. Todos são chamados, indistintamente. Não há restrições para ninguém. Muito menos há privilégios ou castas dos que serão salvos. Todos nós nos tornamos filhos de Deus e somos inscritos no livro da vida pelo batismo quando é apagado nosso pecado original e nos é restabelecida a graça de Deus, a graça que nos santifica e nos dá ânimo para a vivência da vida cristã no quotidiano.
A porta de entrada no Reino de Deus é estreita. Mas, com graça e humildade, poderemos passar pela porta para entrar na vida eterna.
A porta significa a passagem. Passar para o Reino de Deus, para dele participar em plenitude, exige esforço, luta, penitencia, conversão, mudança de vida, e cruz.
Não basta ouvir sermões sobre a vida de Jesus ou ir à mesa da Santa Eucaristia. É preciso mais do que isso. É necessário lutar e combater o bom combate vivendo as obras de justiça, colocando em prática os ensinamentos de Jesus, entendendo, assim os mistérios da Paixão do Senhor e sofrer com ele os fatos acontecidos em Jerusalém.
A oração pela oração não basta para entrar na porta estreita. Ajuda. Mas não é tudo. Depende muito mais da conversão. Jesus nos dá a mão para o grande esforço do combate espiritual conversão. A resposta se dá de maneira individual com um raio de compromisso comunitário na Paróquia, na Diocese e na Igreja Católica espalhada pelo orbe.
Meus queridos Irmãos,
Todos os homens e mulheres que estão fatigados são convidados a virem a Jesus para ser pelo Senhor aliviados. O vindo implica em dar um sim ao chamamento. Esse caminhar, feito de esforço, de luta, de encantamento, de perseverança, de fidelidade, está incluído no esforço para adentrar a porta estreita.
Salvação que é pura graça do Senhor. Pedi e receberei. Procurai e será achado. Assim deve ser a salvação. No caminho de salvação os tropeços, os espinhos, as incompreensões, as perseguições aparecerem e elas amadurecem a nossa fé. Não há glória sem Calvário. Peguemos a nossa Cruz e com ela procuremos a doce salvação.
A primeira leitura lembra que Deus não apenas quis salvar o povo de Israel do exílio babilônico, como também o encarregou de abrir o Templo e a Aliança a todas as Nações. Quando Deus concede um privilégio, como foi a salvação de Israel do cativeiro babilônico, este privilégio se torna responsabilidade para com os outros. Deus rejeita a auto-suficiência. Todos nós caminhamos num processo de busca, de humildade e de partilha.
A segunda leitura, por seu turno, nos lembra que Deus “castiga” para nos educar. Pois o Senhor educa a quem ele ama e castiga tudo aquele que acolhe como filho, nos ensina Hb 12,6. O sofrimento pode ter o valor de educação para uma vida que agrade a Deus, já que este, em Cristo encarou o sofrimento. Não é errada tal valorização do sofrimento, já que não se consegue escapar dele, nem mesmo no admirável mundo novo da era escatológica.
Queridos Irmãos,
Celebramos hoje a vocação de nossos queridos irmãos leigos e leigas, particularmente os inúmeros catequistas. O LEIGO tem hoje um papel muito importante dentro da Igreja. Tão importante que o legislador canônico de 1983, invertendo a antiga disciplina jurídica da Igreja, colocou o povo de Deus em maior destaque do que a hierarquia eclesiástica. A celebração eucarística deve, pois, levar a Comunidade a dar graças ao Senhor da Vida pela vocação cristã recebida e a renovar o compromisso de corresponder ao dom misericordioso de Deus, não se fechando sobre si mesma, mas abrindo o coração para acolher, sem distinção, a todos. Assim se dará graças por todos os homens e mulheres que participam dos bens do Reino, além da comunidade de fiéis, em todos os homens e mulheres de Boa Vontade que procuram entrar pela porta estreita da renúncia de si mesmos e da prática da caridade e do sumo bem.
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