“Tende compaixão de mim, Senhor, clamo por vós o dia inteiro; Senhor, sois bom e clemente, cheio de misericórdia para aqueles que vos invocam”(cf. Sl 85,3.5)
Meus queridos Irmãos,
A liturgia de hoje está toda envolvida na pobreza. Buscando a modéstia e a gratuidade nós agradaremos ao Senhor Deus. Assim Jesus ao hospedar na casa de uma pessoa nunca ficou refém de seu hospedeiro. Hoje Jesus é hóspede de um anfitrião ilustre: um chefe dos fariseus. A casa do chefe dos fariseus está repleta de seus correligionários e asseclas, estes não muito bem intencionados, como sói ocorrer com as pessoas do mal. De início Jesus relativiza o repouso sabático, defendendo a liberalidade de seu cumprimento. Depois Jesus critica a atitude comezinha dos fariseus de serem bajulados e honrados por sua virtude, também nos banquetes, onde gostam sempre de ser aqueles que ocupam os primeiros lugares. Assim Jesus, na contra-mão, nos ensina que no Reino de Deus, a gente deve estar numa posição de receptividade, não de auto-suficiência.
A segunda Parábola nos ensina Jesus que não devemos convidar para o banquete somente aqueles que estão ao nosso entorno. Mais do que isso devemos convidar aqueles que não tem condições de estar conosco, os mais pobres, os mais humildes, os verdadeiros excluídos, incluindo-os em nosso grêmio.
Caros irmãos,
A Primeira Leitura desta liturgia dominical(cf. Eclo 3,17-18.20.28-29) nos apresenta a verdadeira modéstia de vida. Não se trata da falsa modéstia da raposa, mas da verdadeira, que consiste na consciência de que só Deus é poderoso e bom. O homem deve sempre recorrer a ele. Daí a atitude do sábio: segurança frente aos poderosos, pois sua confiança está em Deus; e magnanimidade para com os fracos, pois pode contar com Deus.
A Segunda Leitura(cf. Hb 12,18-19.22-24a) demonstra que Deus se tornou manifesto e acessível em Cristo. A manifestação de Deus no Antigo Testamento no Monte Sinai era inacessível. No Novo Testamento, verifica-se o contrário: agora vigora uma ordem melhor: a manifestação de Deus em Cristo é agora acessível, menos “terrível”, porém, mais comprometedora. Não é por ser mais humana, que ela seria menos divina. Antes pelo contrário! No homem Jesus, Deus se torna presente. Esta presença chama-se “Monte de Sião”, “Cidade do Deus Vivo”, “Jerusalém Celeste!”.
Irmãos caríssimos,
Tomar a refeição na cada de qualquer pessoa sempre foi uma demonstração de carinho e de reconhecimento. Tomar refeição com Jesus, sobremaneira, era um sinal de amizade e de estima. Depois que Jesus provavelmente tenha falado na sinagoga, ao sábado, foi convidado para um banquete na casa do fariseu. O fariseu convidou para o seu banquete somente seus amigos e correligionários. O fariseu deixou a margem os pobres e os excluídos da sociedade. Os pobres e as pessoas com deficiências físicas – que não foram convidados e que não podiam participar, porque eram tidos e havidos como impuros e pecadores – costumavam ficar ao lado de fora, observando, e, de certa maneira, escutando as conversas desenvolvidas durante o banquete.
O cenário se desenvolveu no sábado, dia sagrado para os hebreus. No sábado se recorda a passagem pelo Mar Vermelho, do exílio no Egito, para a terra prometida. Na sinagoga se lia os profetas e a Lei. Todos rezavam os salmos de louvor. Era o dia de fazer a unidade com Deus. Jesus vai a refeição do fariseu. O cenário deve nos remeter a desigualdade que continua imperando nos dias modernos: muitos nada tem para comer e uma elite, uma casta, tem dinheiro sobrando pelo ladrão.
Mais importante do que o sábado, do que aquele encontro em que estavam o fariseu, seus partidários, os chamados membros da elite daquela sociedade, a disputa pelo primeiro lugar, pela visibilidade, é a caridade e a humildade. Quem quiser participar do banquete do Reino deve fazer-se pequeno, deve superar o egoísmo, tendente a nos fazer o centro de tudo e de todos.
Ser pequeno e ser bastante desapegado é condição primordial e básica para se entrar no Reino, ou seja, para se compreender a mensagem e o modo de viver terreno e eterno que Jesus ensinou. Deus é glorificado e reconhecido como redentor pelos pequenos e humildes. Não é a ciência e os doutoramentos, nem mesmo a fama, que conta: o primordial no cristão é a humildade de coração, possível em quem tem grandes conhecimentos e também no analfabeto e excluído.
A humildade nos leva a reconhecer nossos limites, sua dependência de Deus como criatura. Só é criatura humana humilde aquele que com gratuidade serve ao próximo, desinteressadamente.
Mais importante do que a observância do sábado é a humildade, o desprendimento, o amor e o perdão, a acolhida sem limites e amarras.
Meus caros Irmãos,
O que é elevado para os homens é “abominável para Deus”(cf. Lc 16,15). Jesus nunca proibiu festas entre os amigos e familiares. A lógica do Reino de Deus não é de recompensas ou de louvores, mas de abertura a todos, amigos e inimigos, santos e pecadores. Não é apenas uma lição de generosidade, aonde quem nos serve a Mesa é o próprio Senhor e Redentor.
Portanto a mensagem de hoje é: saber receber de graça – humildade – e saber dar a graça – gratuidade. A primeira leitura sublinha a necessidade da humildade, oposto à auto-suficiência. A segunda leitura não demonstra muito parentesco temático com a primeira e o Evangelho. Contudo, complementa o tema da gratuidade, mostrando como Deus se tornou, gratuitamente, acessível para nós, em Jesus Cristo. O tom da leitura é de gratidão por este mistério. Graça, gratidão e gratuidade são os três momentos do mistério da benevolência que nos une com Deus. Recebemos sua graça, sua amizade e seu bem-querer. Por isso nos mostrarmos agradecidos, conservando a alegria nos abre para Deus e para a comunidade eclesial.
Queremos, neste domingo, saudar a todos os nossos catequistas que são os autênticos transmissores da nossa fé aos nossos catecúmenos. Que o seu trabalho generoso e ingente seja recompensado por Deus com muitas bênçãos em sua vida e em sua família.
Assim esta gratuidade pessoal deve ser aberta em nossa Paróquia, para todos os nossos irmãos, pois todos participam gratuitamente da comunidade. Humildade e simplicidade, desapropriação do poder, da fama e da posse dos bens materiais supérfluos. No Reino de Deus não são os valores da competição que valem. O que realmente conta e vale é a atitude de serviço humilde e generoso aos irmãos, a todos sem distinção. Amém!
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