Liturgia Dominical
 
27º Domingo do Tempo Comum - C
 
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“Senhor, tudo está em vosso poder e ninguém pode resistir à vossa vontade. Vós fizestes todas as coisas: o céu, a terra e tudo o que eles contêm; sois o Deus do universo!”(cf. Est. 1,9.10s)


Meus queridos Irmãos e Irmãs,

Duas palavras hoje nos convidam para a reflexão em torno de toda a liturgia: a FÉ e a FIDELIDADE. Quando Habacuc, na primeira leitura, diante da desordem em Judá, nos últimos anos antes do exílio, grita a Deus com impaciência, quase com desespero, Deus anuncia que ele tratará o mal por um remédio mais tremendo ainda: os babilônicos. À objeção de Habacuc contra esta solução, o Senhor Deus responde: “Eu sei que o faço; não preciso prestar contas; mas os justos se salvarão por sua fidelidade”.

Na primeira leitura(cf. Hab 1,2-3; 2,2-4) o profeta pede explicação a deus – Este trecho é um diálogo entre Deus e o profeta. O profeta se queixa, porque a impiedade está vencendo. O direito e o próprio justo são pisados ao pé. Resposta: vem coisa pior ainda! Deus não precisa prestar contas para o homem. Este é que lhe deve obediência, também nas horas negras.

Caros fiéis,

A segunda leitura(cf. 2Tm 1,6-8.13-14) São Paulo nos adverte que não devemos nos envergonhar do Evangelho e guardar o bem depositado. Esta exortação paulina aos pastores, que precisam lembrar-se de que está servindo ao Cristo aniquilado. O “bom depósito” é a plena verdade do Evangelho. Repletos dela, poderão distribui-la aos outros. O cristão é responsável não só por sua própria fé, como também pela fé do irmão.

Meus irmãos,

A fé não se mede pelo tamanho, mas muito mais pela qualidade e pelo compromisso de evangelização, de nova e eterna evangelização aonde somos chamados a resgatar a pessoa humana na sua integralidade. Assim, hoje, Jesus no Evangelho(cf. Lc. 17,5-10), capítulo 17 de São Lucas, nos fala da fé, razão propulsora da misericórdia. Jesus não diz o que é a fé, mas apresenta qualidades da fé, que nos ajudam a examinar a fé que temos e que professamos.

A fé é uma experiência pessoal que nós vamos evoluindo para se transformar numa experiência comunitária ou eclesial que nos enche de encantamento na busca do rosto de Deus.

A fé pessoal tem que se transformar em fé eclesial ou religiosa. Confiamos, mesmo contra todas as nossas tendências e pecados, na misericórdia de Deus que nos embala pela força do Santo Espírito na vivência da fé pela Palavra de Deus e pela celebração dos sacramentos e sacramentais.

Vivemos um grande momento de crise de fé e de grande secularismo. A humanidade está vivendo uma grande crise de relacionamento. À raiz dessa crise está o amor-tecimento da fé em Deus criador e provedor. A fé cristã vê a força de Deus encarnada em Jesus Cristo, Palavra viva de Deus no meio de nós, conosco fazendo comum unidade.

Irmãos e Irmãs,

Jesus apresenta o Deus misericordioso, que abraça o filho pródigo, sem pedir satisfações nem impor condições. Assim deve ser a nossa práxis cristã. Jesus nos ensina que o perdão não tem limites e isso a homens cuja generosidade maior havia chegado até a lei do talião, isto é, “elas por elas”.

Os apóstolos pedem a Jesus que aumente a sua fé. As exigências de Jesus são difíceis para aqueles que foram escolhidos para o Colégio Apostólico. Jesus chama os discípulos a dar um passo adiante, com novo modo de pensar e de se comportar. A fé pode até ser pequena como um grão de mostarda, mas terá a força de fazer coisas extraordinárias, até mesmo contra as chamadas leis da natureza, como plantar uma árvore sobre as ondas do mar. A fé põe a criatura em comunhão com Deus e a faz participar de sua força criadora e salvadora.
           
Meus amigos,

A fé necessita de duas qualidades: a primeira a fé deve ser DINÂMICA. A fé não é sinônimo de resignação.  A fé nada tem a ver com o quietismo. A fé é coragem e decisão, ação e iniciativa. A fé é tão ativa que é capaz de mudar a ordem da criação. A fé pode ser o impossível, porque Jesus nos ensinou que: “Comigo tudo podeis”(cf Jo 15,5). A fé é dinâmica e opera sempre, em dias de bonança e em dias de martírio ou de dificuldades. A fé tem a força de nos fazer caminhar também por cima das coisas negativas como o pecado, a dúvida, a confusão e a violência injusta.

Tudo dentro do contexto de perseguições a que estariam submetidos os cristãos, particularmente os apóstolos, pela tortura, pela calúnia e pela intransigência dos judeus e do poder romano.

A segunda qualidade da fé: a HUMILDADE. Fé humilde que deve ser generosa e gratuita. A criatura diante do Criador deve ser disponível, sem cálculos, sem pretensões, sem contrato.

Neste contexto muitos cristãos procuram a fé em troca de uma recompensa. Essa era a mentalidade dos judeus e até nos apóstolos no início da pregação. Mas Jesus fala da gratuidade. Jesus é duro e direto: depois de um dia de trabalho ou de vida inteira consagrada às coisas de Deus, devemos dizer: “Somos servos inúteis. Fizemos apenas o que devíamos fazer”.  Quando os discípulos pedem a Jesus que “aumente a sua fé” Jesus confirma a necessidade da fé. Mas uma fé profundamente dinâmica na dimensão para Deus e na dimensão para o próximo: uma fé humilde diante de Deus e diante de nossas pretensões.

Meus caros amigos,

Na segunda Leitura São Paulo admoesta seu amigo Timóteo a manter plena fidelidade ao Senhor. Pois também o ministro da fé deve firmar-se na fidelidade, para poder firmar seus irmãos na fé. Não se envergonhar, observar a doutrina sadia recebida do Apóstolo, guardar o “bom depósito”, ou seja, o bem a ele confiado, o Evangelho. Nas circunstâncias daquele tempo e de todos os tempos, ontem, hoje e amanhã, isso só é possível com a força do Santo Espírito.

O seguidor de Jesus Cristo vive num contexto e num mundo secularizado do qual Deus está ausente, que vive e se organiza sem ele. Com a sua fé, o cristão tem neste mundo a tarefa de destruir as falsas seguranças propondo-lhe as questões fundamentais e oferecendo a todos a sua grande esperança. A fé cristã é posta diante de um desafio: tornar-se propugnadora de problemas que nenhum laboratório, experiência ou computador eletrônico podem resolver, e que, no entanto, decidem o destino do homem e do mundo.

Assim, a Comunidade eclesial, neste dia do Senhor, é convidada com insistência a dar graças a Deus e unir à oferta de Cristo todas essas experiências de páscoa. Por elas os cristãos fazem uso dos bens materiais sem, no entanto, a elas estarem escravizados. A confiança em Cristo liberta o coração do homem para Deus e para os irmãos. Por isso rezemos com insistência: “Senhor, aumentai a nossa fé!”.



 
 

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