Liturgia Dominical
 
29º Domingo do Tempo Comum - C
 
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“Clamo por vós, meu Deus, porque me atendestes; inclinai vosso ouvido e escutai-me. Guardai-me como a pupila dos olhos, à sombra das vossas asas abrigai-me”(cf. Sl 16,6.8).

Meus queridos irmãos,

Mais um domingo nos é colocado para a nossa vida de oração, oração insistente que provoca a Justiça.  Assim neste domingo as leituras, iniciando pela primeira leitura(cf. Ex 17,8-13), nos lembra a história de como Moisés conseguiu a vitória de seu general Josué sobre os amalecitas, os eternos inimigos de Israel. Enquanto Moisés, segurando o bastão da força divina, ergue as mãos por cima dos combatentes, Israel ganha. Quando ele as deixa baixar, perde. Observemos que na batalha contra os amalecitas, quem decide da vitória não é Josué, o general, mas Moisés, o homem de Deus, que reza de braços estendidos desde a manhã até a noite. Sendo Moisés o enviado de Deus é evidente que se trata de uma maneira de tornar a força do Senhor presente no combate. O gesto pode bem significar que Deus mesmo é o general do combate. O próprio gesto de levantar as mãos indica o relacionamento com o Altíssimo. Levantar as mãos a Deus sem cessar, eis a grande lição da leitura do livro de Êxodo.

Estimados Irmãos,

O Evangelho de hoje(cf. Lc. 18,1-8) nos relata a qualidade da oração. Jesus nos é apresentado como um Jesus orante a caminho de Jerusalém, estando próximo de sua morte, de sua ressurreição e de sua glorificação, a oração vem colocada no viés da escatologia, isto é, das coisas últimas da vida humana e do destino que é reservado a criatura humana. Jesus o justo Senhor e Juiz Universal. Jesus ensinou a rezar pela vinda do Reino; mas quando esta se completar, na parusia do Filho do Homem, encontrar-se-á ainda fé na terra? Por isso, até lá, é tempo de oração. Devemos reconhecer a carência em que vivemos e assumi-la na oração insistente. Se não clamarmos a Deus para fazer justiça, sua vinda nos encontrará sem fé.

O contexto dos primeiros tempos depois da paixão, morte e ressurreição de Jesus para alguns de seus seguidores seria que Jesus voltaria logo. Assim muitos se desfaziam de seus bens, porque já não haveria tempo para desfrutá-los. Havia até os que deixavam de trabalhar porque já não se precisaria de sustento. Mas sempre era feita a seguinte indagação: “Qual será o dia do retorno de Jesus?”.

Passados dois mil anos ainda aguardamos o Juízo final dentro do contexto cristão, devendo estarmos bem firmes na fé. Devemos estar em espera confiante. Jesus nos ensinou que viria o fim, mas não determinou o tempo exato. Como Jesus disse que viria de repetente, quanto menos às pessoas podem esperar, Ele poderá retornar. A parusia, ou seja, os últimos tempos, virá. Os que estiverem acordados verão a Deus.

O que, então, fazer neste tempo de espera? Devemos frutificar os talentos, socorrer os irmãos, praticar o bem e mudar de vida buscando uma conversa sincera e absoluta. Assim, a oração continuada, confiante e humilde é a melhor forma de esperar a segunda vinda, a vinda gloriosa do Cristo Senhor, que certamente acontecerá. Rezemos neste sentido!

Caros amigos,

De esperança em esperança em Cristo Senhor os homens e mulheres vão vencer todas as adversidades do mundo. O Evangelho nos fala em um juiz humano. Um juiz sem fé que faz justiça apenas para não se aborrecer quanto mais fará Deus, que é todo atenção para o seu povo eleito? Deus, o justo, o misericordioso, o verdadeiro Juiz que luta contra o mal vai vencer a iniqüidade. Deus veio morar em nosso meio para tirar o nosso pecado e a maldade do mundo. Assim a viúva do Evangelho de hoje representa a humanidade, os homens e as mulheres, que lutam contra a maldade do mundo. Assim Deus nos ensina a pedir, a lutar e a esforçar-se em procurar em ver a Deus. O sofrimento e o desespero se prolongam. Mas Deus fará justiça bem depressa, porque para Deus mil anos são como o dia de ontem.

Os textos da Sagrada Escritura pediam proteção e carinho para as viúvas: “Defendei as viúvas”(cf. Is. 1,17). A viúva é a humanidade pecadora, com fome de pão e de sede de Deus, cercada de injustiças por todos os lados. O desespero não é a saída. O desespero foi o caminho tomado por Judas. As bem-aventuranças apontam para o caminho não-violento. O cristão é um lutador paciente, corajoso, mas não guerreiro; dinâmico e não resignado, contra todas as formas de maldade dentro e em torno de si. Todos nós devemos lutar com fé, único caminho capaz de abrir as portas e caminhos de Deus. A fé, capaz de remover montanhas, transplantar árvores na crista de uma onda, de acalmar o mar, é também capaz de sustentar nosso esforço, reanimar o cansaço da espera, iluminar o mistério da caminhada, dar certeza à nossa esperança, mesmo que seja contra todas as esperanças humanas, porque Deus nunca nos abandona; mas nos abre seus braços e nos chama: Vem e segue-me!

Assim vamos manter viva e confiante a fé no meio das tribulações e escândalos, como os que o próprio Cristo enfrentou em Jerusalém, sem perder, em momento nenhum a confiança no Pai, tão lindamente expressa em sua última frase do Evangelho de hoje que deve ser a nossa profissão de fé jubilosa: “Em tuas mãos, Pai”(cf. Lc, 23,46).

Meus irmãos,

A segunda leitura(cf. 2Tm 3,14-4,2) insiste também na pregação da própria palavra do Evangelho, oportuna ou inoportunamente! O tempo sempre é breve! O homem moderno, mais do que secularizado, é sobretudo objetivo: gosta de saber logo qual é o assunto.

A fé é uma graça de deus, mas também algo que a gente aprende, tanto o conteúdo quanto a atitude. Isto vale, sobretudo, para quem tem responsabilidade na comunidade. Sua fé deve crescer pela leitura da Sagrada Escritura, pela experiência vital e desinteresseira transmissão da Palavra, traduzida novamente para cada geração. A palavra de deus atinge os homens através dos homens. Só o convicto pode convencer. Daí a solene admoestação de que o Pastor eterno julgará primeiro os pastores. Por isso sejamos claros. Não se trata de fanatismo, que é disfarce de insegurança. A insistência que Paulo aconselha é a exteriorização da convicção, sobretudo, porque o evangelho que ele propõe é o da “graça e benignidade de Deus, nosso Salvador”.

O modelo da oração de súplica é a de Jesus no Getsêmani: “Pai, se queres, afasta de mim esse cálice! Contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua” (cf. Lc 22,42). Aquele que crê não quer obrigar Deus a fazer a própria vontade, utilizá-lo para realizar seus desejos, mas obter a graça de conformar sua vontade à dele. Só ele sabe o que é verdadeiramente o nosso bem.

A oração de súplica, quando autêntica, é fonte límpida de energias para começarmos a fazer aquilo que pedimos. Orar pela paz leva a começar a empenhar-se pela paz; orar para que cessem os sofrimentos, leva a ajudá-lo quem sofre...

Irmãos rezemos sempre e com muita fé! O homem deve ser solidário! O homem deve estar a serviço do próximo para torná-lo mais humano e mais divino, tanto no âmbito da secularidade, consagrando o mundo a Deus, como no âmbito da pastoral orgânica.  O homem que sofre poderá unir o seu sofrimento ao de Cristo para a salvação da humanidade. Não devemos separa a oração da vida e nem nos intimidar perante a calúnia, a queixa fácil. Porque confiando na misericórdia de Deus que venceu o mundo nós poderemos cantar colocando tudo “Em tuas mãos, Pai, amém!”.



 
 

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