“Ele apascentará pela força do Senhor... Ele será grande até os confins da terra. Ele será a paz!”(cf. Mq 5,3-4).
Meus queridos Irmãos,
Chegamos ao fim de mais um ano litúrgico celebrando a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. O Reinado de Deus se estende e abarca toda a vida entregue por Cristo, o Redentor da humanidade. O Filho de Deus é rei, porque sua origem é divina: Ele tem o primado e nEle está a plenitude de todas as coisas criadas e de todas as criaturas. O seu reinado contempla a vida, a justiça e a fraternidade. É um rei que se pôs totalmente a serviço, invertendo os valores e entregando a sua vida para que todos a obtivessem plenamente, com total liberdade.
Caros fiéis,
A Primeira Leitura(cf. 2Sm 5,1-3) nos mostra Davi consagrado Rei em Hebron. No fim do século de ferro, chamado tempo dos juízes, Israel quer e consegue um rei. Porém, o povo de Israel deseja ter um rei “como os outros povos”(1Sm 8,5), mas Deus não o quer assim, pois Ele mesmo é o único Rei. Os reis de Israel são seus “ungidos”, seus “filhos”, os executivos estabelecidos por Ele. A história destes reis não é muito gloriosa, mas no fim da linhagem virá o verdadeiro “Filho do Altíssimo”, cujo reino não terá fim(cf. Lc 1,32-33). Davi foi grande, por ter sido o único que conseguiu reunir as doze tribos. Jesus reúne o universo. Pelo preço de seu sangue, constituiu um povo novo.
Irmãos caríssimos,
Assim vemos que Jesus hoje é chamado de Rei no Evangelho(cf. Mc 11,9-10). Mas, porque Rei? Foi uma resposta imediata para os insultos que os soldados e o “mau ladrão” dirigiram ao Crucificado. Todos eles aduzem à realeza, ou o messianismo, de Jesus, uns com escárnio e outro, o bom ladrão, com glória e espírito de fé, ao que faz com que Cristo aclame: “Hoje mesmo ainda estarás comigo no paraíso”.
Lucas nos colocou na sua escola, no seu entendimento, neste ano que hoje chega ao seu termo, com a sua teologia que ensina que o Reino de Cristo realmente inicia na hora da cruz, e dele participa aquele que encarna o modelo do comum dos fiéis: o pecador convertido. Assim, o Reino de Jesus para Lucas, é essencialmente o Reino da Reconciliação do homem com Deus, conforme nos ensina a segunda leitura. A verdadeira paz messiânica, para Lucas, não é tanto o lobo e o cordeiro pastarem juntos (Cf. Is 11,6-9), mas o homem ser reconciliado com Deus e participar da vida divina, no “paraíso”, restauração da inocência original. Deste Reino, o homem participa pela fé, que se expressa na oração: a prece do bom ladrão não é apenas um pedido, mas também confessa Jesus como Rei.
O Evangelista Lucas acentua o reinado de Cristo, sobretudo, na “história da infância” e na narração da Paixão, onde o paradoxo da Cruz parece contradizer o título real. A inscrição no “Titulus”, do alto do madeiro da Cruz: “Rei dos Judeus” torna-se escárnio na boca dos espectadores. Até o facínora crucificado a seu lado insulta Jesus por seu messianismo. Mas o outro acredita neste título paradoxal e pede para ser admitido no Reino, com a tradicional oração de Israel: “Lembra-te de mim!”. Já imagina Jesus no seu Reino. A resposta de Jesus é: “Hoje....!” O Reino já começou, na hora da doação até a morte na cruz. Agora Ele atraí todos a si e os pecadores em primeiro lugar.
Meus caros irmãos,
A segunda leitura de hoje(cf. Cl 1,12-20) nos relembra uma série de títulos dados a Jesus como salvador e Senhor do céu e da terra: Filho amado de Deus, redentor, salvador, imagem visível do Deus invisível, primogênito de todas as criaturas, razão de ser de todas as coisas visíveis e invisíveis, origem de todo o poder e soberania, mantenedor de tudo, princípio de tudo, plenitude de Deus, laço de conciliação entre o céu e a terra. São Paulo aos Colossenses fala da restauração do universo sob o Reino do amor de Cristo. Por Cristo, Deus criou o universo. Por Ele, quer reconciliá-lo e salvá-lo. Cristo é a origem, o centro e o fim de nosso universo. Sem Ele, perde seu sentido. A partir do plano de Deus, entenderemos o que somos e fomos feitos pelo sacrifício do Cristo, o sangue da Cruz. Razão de gratidão e alegria: não somos mais submissos aos poderes das trevas, mas vivemos na luz de Deus.
A liturgia demonstra a nossa participação no Reino de Deus, as nossas obrigações. Assim proclamamos nesta missa Jesus, aquele “que nos amou, nos salvou dos pecados... e fez um reino para nós”(cf. Ap 1,5-6).
O Reino de Deus sempre acontece no meio de nós, porque O SENHOR ESTEJA CONVOSCO! ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS! O Reino de Deus realiza-se na vida terrena e plenifica-se na glória eterna.
Os israelitas, devido às experiências negativas com seus reis, anunciavam um rei que fosse pastor pela força de Deus e estabelecesse a paz por toda a terra: “Ele apascentará pela força do Senhor... Ele será grande até os confins da terra. Ele será a paz!”(cf. Mq 5,3-4).
O próprio povo do Evangelho de hoje muitas vezes via e confundia Jesus como um rei terreno. Mas Jesus era um Rei da vida eterna. Era é e será sempre rei pelos séculos dos séculos. Jesus veio para ser o rei da graça e da santidade, para tirar todo o pecado do mundo(cf. Jo 1,29) e trazer “graça sobre graça”(cf. Jo 1,16). Jesus veio para vencer a maldade e fazer triunfar o bem: é o rei da bondade. Jesus veio para desmascarar a falsidade: Jesus é o rei da verdade. Jesus veio para derrotar a morte: porque Ele é o Rei da vida plena, da vida eterna. Jesus veio para restaurar a criatura humana: Jesus é o Rei da santidade. Jesus veio para refazer o equilíbrio: Jesus é o rei da justiça. Jesus veio para exterminar o ódio: Jesus é o reio do amor e da partilha. Jesus veio para reorganizar o mundo, assim se colocando como o Rei da Paz e da concórdia.
Tudo isso começa aqui na terra e se estende como portal da eternidade, nas alegrias eternas. O Reino de Cristo já existente na plenitude, realiza-se para cada um à medida que construir em sua vida a bondade, a verdade, a santidade, a justiça, o amor e a paz, qualidades que descrevem o que Jesus chamou de “Reino de Deus”.
Meus queridos irmãos,
Vivemos hoje na liturgia a dialética do mundo mau que zomba de Cristo, que o insulta, o ridiculariza e do outro lado o Cristo pacífico e manso, cordeiro imolado que dá, por amor e liberdade, a vida pelos homens e mulheres pecadores. No meio da dialética está o homem e a mulher, a criatura humana convertida, que reconhece e confessa os seus pecados, volta-se para Jesus à procura de perdão e salvação.
Jesus era, é e será sempre o salvador da humanidade, de todos, especialmente dos pecadores. Jesus acolhe o pecador arrependido e lava-lhe as suas culpas, porque “Deus nos arrancou do poder das trevas e nos transferiu para o reino de seu Filho amado, tornando-nos dignos de, na luz, participar da herança dos santos”(cf. Cl. 1,12-13).
Jesus Cristo é o Rei do Perdão. Os termos Rei e Messias ressoam em torno da cruz em frases zombateiras e provocantes. Nesta situação, Jesus tem um gesto verdadeiramente régio e assegura ao malfeitor arrependido a entrada no Reino do Pai. Também diante dos adversários mais encarniçados, Jesus dirá palavras de perdão: “Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem”. Jesus exerce, pois, e manifesta sua realeza não nas afirmações de um poder despótico, mas no serviço de um perdão que busca a reconciliação. Jesus é o primogênito de toda a criatura e por isso é rei, porque perdoando e morrendo para a remissão de nossos pecados, cria uma nova unidade entre os homens. O reinado de Jesus estabelece uma nova ordem, porque Ele quebra a corrente do ódio e oferece a possibilidade de um novo futuro.
Celebrar Jesus Cristo Rei do Universo é dar graças a Deus pela sua generosidade de se fazer Nosso Senhor e Salvador, o Redentor do Mundo! O Reinado de Jesus é um convite para vivermos como Ele: uma vida a serviço do outro, do irmão, na busca da reconciliação. O reino e o reinado de Jesus é o reinado do amor, da partilha e da misericórdia. Viva Cristo Rei do Universo. Amém!
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