Liturgia Dominical
 
30º Domingo do Tempo Comum - B
 
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"Exulte o coração dos que buscam a Deus. Sim, buscai o Senhor e sua força, procurai sem cessar a sua face"(Sl 104, 3s).

Meus irmãos e minhas irmãs,

Vamos caminhando para o fim do tempo comum. Mas é exatamente no tempo comum que a sagrada liturgia nos coloca diante de temas que fazem parte do chamado tempo cotidiano, do tempo das coisas comuns e das coisas simples da vida dos homens e das mulheres.

A Primeira Leitura(cf. Jr. 31,7-9) nos fala da restauração da vista dos cegos, no tempo messiânico. Trata-se da profecia de salvação para Israel e Samaria, deportados em 721aC, interpretada, mais tarde, como válida também para Judá, em exílio desde 586 aC(cf. Jr. 3,18). Deus reunirá as tribos dispersas e as consolará. Portanto, a cura dos cegos e coxos é uma imagem significativamente preferida para descrever o tempo messiânico: uma cidade onde não mais haverá cegos e coxos mendigando é uma verdadeira utopia(cf. Is 35). O povo responde à comiseração de Deus cantando: “Javé salva”(cf. Jr. 31,7).

Meus caros irmãos,

Na liturgia deste domingo somos convidados, uma vez mais, a refletir sobre a nossa salvação individual e a salvação da humanidade. O episódio do Evangelho de hoje(cf. Mc. 10,46-52) é a cura do cego, mais que fato acontecido, é um grande símbolo que salta aos nossos sentidos. O teatro da salvação é a cidade de Jericó, a cidade mais velha do mundo, representa a humanidade que caminha para a salvação, que aspira a salvação, que necessita da salvação. Bartimeu, o cego, representa cada ser vivente, cada um de nós, homens e mulheres. Bartimeu é cada humano que não consegue caminhar sozinho. A cegueira o impede de alcançar uma meta, porque precisa de uma pessoa para se apoiar para se locomover. Bartimeu não representa somente os cegos físicos, mas, sobretudo, a cegueira espiritual. Bartimeu representa aqueles que, na antevéspera da paixão, não poderão caminhar com Jesus para a paixão em Jerusalém. Jesus, precisamente, veio para salvar esta categoria de pessoas, os cegos físicos e os cegos espirituais, a grande maioria da população que não abre sua visão para a salvação que é o próprio Redentor da humanidade.

Meus queridos irmãos,

Jesus hoje está na cidade de Jericó, bem perto de Jerusalém. A palavra Jesus significa “Deus é salvação”. Jesus tem a missão de introduzir o povo na Terra Prometida. Jesus assume o comando do povo para dar-lhes uma pátria eterna, a Terra Prometida definitiva. A subida de Jerusalém é decisiva para Jesus e para a humanidade. Jericó representa a velha humanidade, o velho mundo. O cego se chama Bartimeu. Porque Bartimeu? Porque a salvação ela é para todos, mas cada pessoa, cada fiel tem que cuidar da sua própria salvação.

Bartimeu nos ensinou três virtudes básicas para se conseguir a salvação: Em primeiro lugar a HUMILDADE. Ao exclamar: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!”(cf. Mc 10, 47) Até e principalmente para nos salvarmos é necessário ter humildade, fazer-se pequeno, fazer-se pobre, fazer-se servo simples, fazer-se desprendido. Junto da piedade requerida pelo cego Bartimeu ele teve a grandeza de anunciar a realeza de Cristo chamando-o de “meu mestre”. Humildade absoluta de reconhecer o Salvador como mestre como aquele que abre caminhos e nos coloca nos rumos do céu, da vida eterna. Em segundo lugar temos que ressaltar a FÉ EM JESUS, o REDENTOR. Bartimeu reconheceu em Jesus o Redentor, aquele que nos leva para Deus, que morreu na Cruz pela salvação de nossos pecados. Bartimeu reconheceu em Jesus sua missão de Messias. Em terceiro lugar curado da cegueira Bartimeu deu um pulo e ABANDONOU O MANTO, ou seja, deixou tudo que era velho e foi na nova vida dar testemunho de Jesus e colocar em Jesus a sua única segurança. Tudo para que nós tenhamos consciência de que é necessário abandonar o homem velho, abandonar os bens temporais que oprimem e nos escraviza.

Meus irmãos caríssimos,

A segunda leitura(cf. Hb 5,1-6) situa o ser sacerdote de Nosso Senhor Jesus Cristo na sua solidariedade com os homens e com Deus ao mesmo tempo. Participando de nossa condição, santifica-a. Jesus é o pontífice por excelência. Não Jesus mesmo, mas também nenhuma instituição humana, lhe conferiu este poder. Ele pertence a uma linhagem sacerdotal que supera até a de Aarão, por ser primeira e de origem desconhecida, misteriosa: a linhagem de Melquisedec.

Queridos fiéis,

Dentro do Ano da Fé, proposto pelo Papa Bento XVI, a nossa consideração até a solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo de 2014 devemos nos conscientizar de que não há, no mundo secularizado como o nosso, espaço para uma fé anônima, formalista e hereditária, uma fé oriunda de uma pastoral de manutenção.

Urge uma fé fundada no aprofundamento da Palavra de Deus, na opção pelo que professamos no símbolo de nossa fé católica e apostólica e uma fé abraçada conscientemente, inserida como discípulos-missionários.

Nesse sentido é salutar olharmos para os sacramentos da iniciação cristã, de um novo modo de considerar a evangelização e os sacramentos, não apenas como numéricos, sem vivência eclesial.

É tempo de uma renovada opção catequética, formativa, de introduzir nossos batizados nos mistérios da nossa fé, com um catecumenato renovado, buscando um verdadeiro itinerário de uma fé viva.

Irmãos e irmãs,

Aprendamos com Jesus! Jesus escuta o pobre, o cego à beira do caminho. Para curá-lo pede a colaboração de seus discípulos. Encontra os que o animam: “Coragem! Ele te chama. Levanta-te”.(cf. Mc 10, 49) Mas para aproximar-se de Jesus é sempre necessário deixar algo, nem que seja somente o manto. Importante ainda que se queira ver novamente. Então, basta confiar e corresponder: segui-lo pelo caminho, deixando tudo para trás. Nós cristãos já fomos o cego Bartimeu à beira do caminho. Cristo nos chamou e nos fez ver. Com alegria, pois, o seguiremos no seu caminho, que nos leva para o Céu. Amém!

 
 

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