Liturgia Dominical
Solenidade de Todos os Santos – C
Por: Padre Wagner Augusto Portugal
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"Alegremo-nos todos no Senhor, celebrando a festa de todos os Santos. Conosco alegram-se os Anjos e glorificam o Filho de Deus".

Irmãos e Irmãs,

A Solenidade de todos os santos engloba os três momentos do tempo, além da dimensão universal do espaço. Realmente, celebramos os justos do passado, celebrando a vocação à santidade futura – ou seja, o céu – e celebramos a santidade como dom – graça – presente e atuante na história.

A santidade presente ou atual, que muitas vezes é menosprezada, é o centro da liturgia desta festa, pela mensagem do Santo Evangelho: as Bem-aventuranças devem ser entendidas como uma proclamação, pronta e acabada, do Reino de Deus para as pessoas que vão ficar felizes com o acontecimento do Reino entre nós. São, por conseguinte, ao mesmo tempo, a proclamação da amizade de Deus para aqueles que participam do espírito que é evocado num programa de vida que todos nós somos chamados a viver: a pobreza, a consolação, a mansidão, a justiça, a misericórdia, a pureza e a paz. Tudo que vem de Deus e retorna para o mesmo Deus, o da vida plena.

Meus queridos irmãos,

Celebramos hoje o mistério pascal de Cristo. E isto não é novidade, porque em todas as missas o que celebramos é a vida no Cristo Ressuscitado. Todos nós somos convidados por São Mateus à alegria da presença de Cristo em nossa vida e na história: “Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”.

Alegria da solenidade de hoje que vem muito bem colocada junto à comemoração dos fiéis Defuntos. As duas celebrações, a de ontem e a de hoje estão ligadas pela fé e pela doce esperança cristã no destino eterno da criatura humana, redimida por Jesus Cristo. Os santos lembram a meta alcançada, onde não precisam mais da fé e da esperança, porque tudo é amor. A celebração de hoje é envolvida de esperança e de fé e, por isso, bastante voltada para as boas obras realizadas por nossos mortos, quando vivos, ou que devemos fazer nós, para alcançar a coroa da vida plena, da vida eterna.

Na noite santa da Vigília Pascal, ao entoarmos o “Exsultet”, cantamos jubilosos: “A Luz do Rei eterno venceu as trevas do mundo... Cristo libertou-nos da escuridão do pecado e da corrupção do mundo e nos consagrou ao amor do Pai e nos uniu na comunhão dos santos!” E com as velas em punho, elevando a nossa alegria, renovamos as promessas do Batismo, isto é, o nosso ingente compromisso de caminhar na santidade.

A Luz, o próprio Cristo Ressuscitado, celebrado no Batismo e reafirmado em cada Eucaristia é a mesma Luz que advém das velas acessas por ocasião de um velório ou sepultamento. É a mesma Luz, o mesmo Cristo, luz do mundo e salvação dos homens e das mulheres, que arrancou-nos das trevas do erro e da condenação, revestindo-nos da gloriosa condição de filhos de Deus, e que nos conduz para a luz eterna, onde “o Senhor Deus nos iluminará e reinaremos pelos séculos dos séculos”(cf. Ap 22,5).
           
Meus queridos Irmãos,

O caminho natural da vida é nascer e um dia morrer. Ninguém vai fugir da única certeza que é a morte. De Deus viemos e para Deus voltaremos, porque Cristo conseguiu a vitória sobre a morte e levou a criatura a participar da vida incorruptível e eterna de Deus. O mesmo Senhor que nos legou a vida nos dá a morte: “Tu, Senhor, tens poder sobre a vida e sobre a morte”(cf. Sb 16,13). Assim, o mesmo Senhor que nos criou por amor, acolhe-nos para um amor infinito, para uma perfeita comunhão com Ele.

Nós, homens e mulheres, de maneira completa, corpo e alma, pertencemos ao Senhor. A morte é um encontro festivo do amor divino e da vida humana. São Paulo mostra-nos que é “preciso que este corpo corruptível se revista de incorrupção e que este ser mortal se revista de imortalidade”(cf. 1Cor 15,53). A morte, portanto, é a ponte entre a bela vida terrena e passageira para a belíssima vida celeste, divina e eterna junto de Deus.

Os mortos não retornam a este mundo, mas nós formamos com eles que se encontram na chamada COMUNHAO DOS SANTOS, uma verdadeira comunhão. O que significa que há uma possibilidade de comunicar-nos com eles pela oração, pelas missas que celebramos pelo seu eterno repouso. Nos ajudamos mutuamente, rezando pelos falecidos que estão na comunhão dos santos, fazendo a sua memória no Cristo Ressuscitado.

Caros irmãos,

A Primeira Leitura desta solenidade(Ap 7,2-4.9-14) nos fala de uma grande multidão, que ninguém podia contar. Entre as visões das catástrofes do fim do mundo, surge a visão da glória dos eleitos, fruto da salvação que vem “de nosso Deus... e do Cordeiro”(cf. Ap 7,10). Por seu sacrifício, o Cordeiro venceu a morte. Desta vitória participam os que, especialmente no sacrifício do martírio, “branquearam suas vestes no sangue do Cordeiro”. Não o número dos eleitos é o que esta leitura quer mostrar, mas a vitória sobre as forças que se opõem a Cristo e a sua comunidade”.

A Segunda Leitura(cf. 1 Jo 3,1-3) nos mostra que já somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que seremos – Quem não se sabe amado por Deus não entende o que significa ser “filho de Deus”. E sabe-o quem o pratica. Mas este saber fica ainda velado. Só na glória manifesta-se em plena clareza. Mas na esperança já participamos da santidade de Deus, se vivermos como seus filhos.

O Evangelho(Mt 5,1-12a) nos apresenta as Bem Aventuranças. Bem-Aventurados: a felicidade prometida por esta perícope, pertence somente aos que temem o Senhor. Foi prometida por Jesus a várias categorias de pessoas, entre as quais predomina a dos pobres, sendo tudo mais apenas especificação do que comporta a pobreza em espírito. Ora, a esses pobres, a esses deserdados, a essa gente que não conta na sociedade é agora oferecida a felicidade, se souberem por sua confiança no Senhor.

De fato, ela é possível porque Jesus está presente, e é oferecida aos que o ouvem com fé, apesar da dura realidade de sua situação atual. Aqueles que forem perseguidos e injuriados pelo seguimento de Cristo estes serão recompensados no céu.

A liturgia fala unicamente de santidade. Porém, para sabermos qual é o caminho da santidade, devemos subir com os Apóstolos ao monte das Bem-Aventuranças, aproximar-nos de Jesus e colocar-nos à escuta das palavras de vida que saem dos seus lábios. Também hoje Ele nos repete: Bem-aventurados os pobres em espírito, porque possuirão o reino dos céus! O Mestre divino proclama "beatos" e, poderíamos dizer, "canoniza" em primeiro lugar os pobres em espírito, ou seja, aqueles que têm o coração livre de preconceitos e condicionamentos e por isso são totalmente disponíveis à vontade divina.

A adesão integral e confiante a Deus supõe o despojamento e o desapego coerente de si mesmo. Bem-aventurados os aflitos! É a bem-aventurança não só daqueles que sofrem pelas inumeráveis misérias inerentes à condição humana mortal, mas também de quantos aceitam com coragem os sofrimentos derivantes da profissão sincera da moral evangélica. Bem-aventurados os puros de coração! São proclamados ditosos aqueles que não se contentam com a pureza exterior ou ritual, mas procuram a absoluta retidão interior que exclui qualquer mentira e ambiguidade. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça! A justiça humana já é uma meta excelsa, que enobrece o ânimo de quem a procura, mas o pensamento de Jesus tem em vista a justiça mais elevada, que consiste na busca da vontade salvífica de Deus:  feliz é sobretudo quem tem fome e sede desta justiça.

Com efeito, Jesus diz:  "Só entrará [no Reino do Céu] aquele que põe em prática a vontade do meu Pai que está no Céu" (Mt 7, 21). Bem-aventurados os misericordiosos! Ditosos são aqueles que vencem a dureza de coração e a indiferença, para reconhecerem de forma concreta a primazia do amor compassivo a exemplo do Bom Samaritano e, em última análise, do Pai "rico em misericórdia" (Ef 2, 4). Bem-aventurados os pacificadores! A paz, síntese dos bens messiânicos, constitui uma tarefa exigente. Num mundo que apresenta tremendos antagonismos e obstáculos, é necessário promover uma convivência fraterna inspirada no amor e na partilha, superando inimizades e contrastes.

Felizes aqueles que se comprometem neste nobilíssimo empreendimento. Os Santos levaram a sério estas palavras de Jesus. Acreditaram que a "felicidade" haveria de lhes advir se a traduzissem concretamente na sua própria existência. E experimentaram a sua verdade no confronto quotidiano com a experiência:  não obstante as provações, as obscuridades e as adversidades, saborearam já aqui na terra a profunda alegria da comunhão com Cristo. N'Ele descobriram, presente no tempo, o gérmen inicial da futura glória do Reino de Deus.

Irmãos e Irmãs,

A solenidade de hoje como a festa de finados tem um viés todo pascal, de ressurreição, de vida eterna. De dentro da escuridão da morte, nos levantaremos como o Cristo, como o sol de uma aurora sem ocaso. E da noite da nossa morte se poderá dizer o que se canta na noite pascal: “Ó noite verdadeiramente gloriosa, que une a terra ao céu, o homem criado ao seu Criador!”

A santidade não é o destino de uns poucos, mas de uma imensa multidão conforme nos ensina a primeira leitura: todos aqueles que, de alguma maneira, até sem o saber, aderiram e aderirão à causa do Cristo e do Reino entrarão na comunhão ou comunidade dos santos.

São João nos ensina na segunda leitura o mesmo pensamento: já somos filhos de Deus, e nem imaginamos o que seremos! Mas uma coisa temos certeza: seremos semelhantes a Ele, realizaremos a vocação de nossa criação. O amor de Deus tomará totalmente conta de nosso ser, ao ponto de nos tornar iguais a Ele.

Ser santo significa ser de Deus. Não é preciso ser anjo para ser santo. Santidade não é angelicalismo. Significa uma fé encarnada, libertadora, modo de vida autêntico baseado no santo Evangelho. Sair de si e ir ao encontro do outro, especialmente do mais humilde e necessitado.

Por isso elevemos nossos olhos a Deus e demos graças pela vitória de sua graça em todos os eleitos; somos impelidos a alegrar-nos com sua felicidade e somos encorajados a viver no espírito dos pobres, ou seja, das bem-aventuranças. A Igreja militante deste mundo se une a Igreja padecente na prece humilde para que a Igreja triunfante do céu venha ao nosso socorro, nos fazendo cidadãos do céu e peregrinos do infinito na Trindade. Amém!

 
 

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