O passo errado

Nem tudo no mundo são flores e rosas, como no paraíso. A vida real é cheia de insatisfações, de sofrimento e de dor, terminando com a morte. Há no mundo uma espécie de princípio de desagregação, que só pode ter sido introduzido pelo homem. Foi dado um passo em falso.

As crianças em geral gostam muito de ver televisão. Adoram os programas infantis. Ficam vidradas na maioria dos filmes publicitários. Os anunciantes procuram falar às crianças, para levar os pais a comprar.

Há uma coisa, porém, que as crianças lá de casa não conseguem engolir: o noticiário. Precisa ver a briga que dá: elas vivem reclamando que nós, adultos, só nos interessamos por desastres, crimes e inflação!

No entanto, fico pensando: a televisão é uma janela para o mundo. Cada um abre do lado que quer, para ver aquilo de que gosta. Nossa mente parece uma televisão: olha para o lado que quer, e acaba vendo apenas aquilo que lhe interessa.

As crianças, sem malícia, gostam dos desenhos animados e se sentem bem no mundo de sonho e de prazer, criado pêlos publicitários. A criança tem pouca noção do mal.
Os adultos vivem com a sensação de crise. Só vêem corrupção no governo, grandes negociatas, crimes, violências e desequilíbrios na economia.

Há qualquer coisa de errado no mundo, que a gente só vai descobrindo aos poucos, à medida que vai crescendo e conhecendo melhor quem são as mulheres e os homens no meio dos quais nascemos.

Na adolescência, os jovens passam por uma fase difícil. Precisam se afirmar. Querem o que é bom, mas, na maioria das vezes, só conseguem fazer o que os adultos condenam ou o que eles mesmos não acham legal. Quantos jovens não vivem fugindo de si mesmos? Quantos não se perdem nessa fuga?

Os adultos estão de tal maneira ocupados em ganhar a vida, conseguir a sobrevivência ou manter o padrão social, que não têm muito tempo para pensar. É mais importante produzir e consumir, do que ficar se colocando problemas.

Chega o dia, porém, em que todos têm de se defrontar com a vida e consigo mesmos. É a hora da verdade. Nem sempre isso ocorre na morte, que vem, às vezes, como um ladrão, de repente. Mas, antes dela, com a doença, a morte de um ente querido, uma frustração, uma derrota, uma desgraça, mas também um sucesso ou uma sorte grande. Nesses momentos se pensa: qual é o sentido de tudo isso? Por que estamos correndo tanto? Para que tanta ansiedade? Tanta expectativa? Tanto sacrifício?

Foi num momento assim, procurando entender a vida, que um hebreu, vários milênios de anos atrás, consultando as explicações que davam da vida os muitos povos do Oriente Médio, escreveu de novo a história da humanidade, que chegou até nós nos livros da Bíblia.

Ela começa falando do mundo criado bom e do paraíso. Tudo vem de Deus. Mas nem tudo, pois o mundo que conhecemos está cheio de dificuldades. O mal, o sofrimento e a morte, que todos acabamos experimentando um dia, não vêm de Deus. Foram as criaturas, então, que falharam.

A Bíblia conta esta história a seu modo.

Deus é tão diferente de tudo que imaginamos e pensamos, tão poderoso - dizemos pobremente, tão surpreendente -, que não apenas fez coisas, mas fez também criaturas espirituais, à sua imagem, com as quais quer compartilhar a vida e viver para sempre, como amigo.

Para se tornar amigo de Deus, porém, é preciso querer. E para querer, é preciso ser livre.

Criaturas livres precisam quer o bem. Podem, então, não querer. A vida é séria: poder querer é poder, também, não querer. Muitos querem o bem. Outros, não.

O não querer o bem é que está na raiz da dor, do sofrimento e da morte existentes no mundo. Estamos de tal maneira envolvidos pelo mal, que quando se abre a janela da mente só percebemos desonestidades, violências e desgraças, apesar de vivermos correndo atrás da produção e do consumo. Realmente. Foi dado um passo em falso. O mundo precisa ser consertado, precisa ser salvo.

Leia nos dois primeiros capítulos do livro do Gênesis, na Bíblia, a história contada milhares de anos antes de Cristo. Como você a contaria agora, nos dias de hoje?

Fonte: Revista Família Cristã