A Samaritana
Há certos encontros que mudam nossa vida. Helena era uma amiguinha de infância. A primeira vez que foi ao zoológico, encontrou um menino da vizinhança. Acabaram se casando e levando uma vida feliz. Encontrei-os outro dia avós, na formatura de uma neta.
Irmã Berenice, quando menina, saiu de casa para espairecer. A família estava numa discussão medonha. Ninguém se entendia. Sentou-se na praça, ao lado de um senhor entusiasmado com a vida da comunidade cristã. "Mas como é bonito" - exclamou ela. Vocês não brigam entre si? "Discordamos muitas vezes" - disse o "tio". "E algumas vezes discutimos. Mas procuramos sempre resolver tudo entre irmãos." Berenice procurou a comunidade, a que hoje, passados muitos anos, dedica sua vida.
Coisa semelhante aconteceu com uma samaritana, conta-nos João, no capítulo 4 do seu evangelho.
A samaritana não era uma mulher feliz. Seu casamento não havia dado certo. Naquele tempo era muito difícil para uma mulher viver sozinha. Por isso ela acabou vivendo com vários homens e estava morando com um a quem não amava, por simples conveniência.
Certa manhã foi buscar água no poço da cidade e encontrou um homem encantador. Mas era judeu, e os samaritanos e os judeus não se davam, por causa da religião. Seu coração disparou. Pressentia que algo de extraordinário ia acontecer.
- Dê-me de beber - falou-lhe primeiro o desconhecido.
- Que voz! - pensou ela. Não sabia explicar a estranha atração espiritual que sentiu por aquele homem.
Confusa, perguntou: "Como é que você, sendo judeu, pede alguma coisa a mim, que sou samaritana?"
A resposta a intrigou mais ainda: "Se você soubesse quem sou eu, você é que me pediria água da fonte."
-Ora essa - respondeu a mulher, aliviada e vendo que a conversa ia se tornando mais pessoal.
- Você não tem nem com que tirar água do poço, e me promete água da fonte. Acaso você é maior que nosso pai, Jacó, que perfurou esse poço?
- A água que lhe estou oferecendo é diferente - ia explicando Jesus, quando chegaram os discípulos. Ficaram meio sem jeito de ver o mestre conversando com uma mulher.
Entreolharam-se, mas nada disseram.
Para sair do embaraço, a samaritana, num tom mais distante, pediu: "Dê-me então dessa água. Tenho vontade de bebê-la."
- Vá chamar seu marido - respondeu Jesus, inesperadamente.
- Não tenho marido - disse ela, meio, atrapalhada.
- É verdade - disse Jesus. -Você está com o quinto homem e ele não é seu verdadeiro marido!
No meio de desconhecidos, a mulher ficou perplexa. "Como ele sabe de tudo a meu respeito?" - pensou. "Esse homem é um profeta." Virou então a conversa para o lado religioso: "Onde devemos adorar a Deus?" - perguntou ela.
- Agindo sinceramente - respondeu Jesus. - Deus é espírito, não está aqui ou ali, nisto ou naquilo que façamos ou deixemos de fazer. Desde que sejamos sinceros, o agradamos e adoramos, onde quer que estejamos.
São João conta depois a forma como a mulher voltou à cidade e anunciou Jesus, como sendo o profeta que todos esperavam. Os habitantes da cidade insistiram para que ficasse com eles. Durante dois dias, Jesus pregou aos samaritanos. Diziam depois que já não acreditavam somente por causa do testemunho da mulher, mas porque eles mesmos "haviam ouvido Jesus e sabiam que era o salvador do mundo". O encontro de Jesus com a samaritana mudou a vida não só dela, mas de toda a cidade.
Às vezes pensamos que é preciso ter grandes idéias ou grandes programas para transformar o mundo. Podem até ser úteis. Mas Jesus agiu de maneira bem diferente. Cumpriu diversamente sua missão. Ele não rejeita as multidões, mas também não confia muito nelas. Foge, quando o querem aclamar, para evitar que pensem que pode resolver os problemas do povo com um gesto político ou com uma bênção. Jesus fala às pessoas. Desperta-lhes o desejo. Coloca-as diante da vida que estão levando, para que se decidam a mudá-la. Como cristãos, nossa missão no mundo é a missão de Jesus: transformar a emoção em face da vida em religiosidade, como a emoção da samaritana foi transformada em paixão missionária.
Fonte: Revista Família Cristã