Com a palavra...
 
O que a crise nos ensina
Por: Paulo Francisco Machado
 
Leia os outros artigos
 

Nos últimos dias o assunto recorrente do momento é a queda das bolsas de valores no mundo inteiro. Aqui do meu cantinho vou vendo na mágica tela da TV ou do notebook as notícias alarmantes. Realmente numa sociedade materialista como a nossa, que só dá valor ao ter, a queda nos lucros é uma grande tragédia. Os investidores não se deixam convencer de que tudo não passa de uma crise momentânea, mesmo com as doses cavalares de bilhões de dólares injetados pelos bancos centrais. O mercado de ações não confia em ninguém mais: nem em presidente, nem em ministro das finanças, muito menos em corretores de ações.

Não se escutou a sábia vovozinha que do alto de suas muitas décadas dizia: "Não se põe o chapéu onde a mão não alcança". A compra e venda de imóveis em certo país mais se assemelhava a um jogo de cassino. Esqueceu-se de que a ambição é um vício que potenciado leva a inúmeros desmandos. Ele produziu um maremoto que formou um tsunami, pulverizando em horas as finanças das nações. A ambição foi tanta de parte a parte que quebrou a banca porque os jogadores não tinham mais como honrar os seus compromissos.

Fica além da lição número um de que a ambição, por ser uma forma de paixão acaba por comprometer seriamente a razão e, por isso se diz que o mercado enlouqueceu; a do valor inquestionável da verdade nas nossas relações comerciais, financeiras e, é claro, humanas. Fazer delas uma espécie de jogo de truco, em que a mentira é o "barato", é colocar em risco o bem estar da sociedade.

A terceira lição é de que o trabalho, seja ele braçal ou intelectual, é e será sempre a geradora de riqueza e da real grandeza das nações. Houve um tempo em que era preciso suar, e muito, para se obter os bens necessários à nossa existência. Tanto o lavrador quanto o operário deviam suar a camisa para obter o pão de cada dia. Havia um aspecto ascético de certa forma disciplinador das pessoas. Hoje, mais que a força dos braços, que devemos comprar nas academias de ginástica, valoriza-se a força do cérebro e da imaginação. Vivemos na revolução do conhecimento e da informação que chega com rapidez sempre crescente e num volume assustador, impossível de se digerir para ser decantado e formar a pessoa sábia. A tecnologia, irmã siamesa da ciência vai dispensando a cada dia mais pessoas de fazer uso de força física, de trabalho braçal para produzir bens. Também a imaginação é a bola da vez e todos sabem que a sua exacerbação varre para a lata de lixo a razão e produz tantos desmandos.

A crise atual nos faz pensar no que o grande historiador inglês Arnold Toynbee recomendava para evitar a catástrofe ecológica: retorno ao espírito franciscano. Na ciranda do ritmo acelerado de produção/consumo os recursos naturais se esgotam, polui-se o planeta que já caminha para sua agonia. Será necessário mudar nosso estilo de vida cultivando hábitos de economia, de disciplina e, até mesmo, de certa frugalidade; dar primazia ao humano, aos nossos autênticos valores. Estamos, sim precisando de um choque moral que resgate o valor da amizade, da paz, da verdade e coloque no devido lugar de honra os quatro pilares capazes de edificar uma sociedade digna do ser humano. Precisamos voltar aos velhos alfarrábios para descobrir os nomes desses quatro pilares, no passado chamados de virtudes cardeais: justiça, prudência, fortaleza e temperança. Com esses quatro eixos seremos capazes de superar desafios e opor uma eficaz barreira ao tsunami de lama que nos sufoca e tira a nossa alegria de viver e conviver.



 
 
xm732